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Olhares Olhares 2019

Quantas músicas cabem num rio?

Cantos de fiéis fervorosos em barcos rio abaixo, um homem marcando o ritmo de seu búfalo-bumba, uma artista de rua a cantar músicas de sofrência, o treme-treme das gangues do eletro, os sons que se entrelaçam aos cantos dos pássaros e uma diva dos bailes de carimbó amazônico, a entoar versos sobre banzeiros e pororocas, encantarias e especiarias. Essas e outras misturas compõem as sonoridades da floresta no “Amazônia Groove”, longa-metragem documental que abre a Ciranda de Filmes 2019.

Quantas músicas cabem num rio?, indaga um dos personagens do longa. Tal questão se agiganta quando o rio é nada menos do que o caudaloso Amazonas, cujas águas nascem nas montanhas peruanas dos Andes com o nome de Maranhão, é batizado de Solimões ao adentrar o Brasil, correndo até Manaus, onde encontra o rio Negro e passa a ser chamado de Amazonas, rio com sede em direção ao oceano Atlântico, no Delta do Marajó. Nesse longo trajeto, são muitos os aspectos de ancestralidade, fé, mistério, encantamento, memória e identidade banhados nessas águas.

É percorrendo as águas do Amazonas pelas lentes de Bruno Murtinho, também responsável pela direção e pela montagem do filme, que adentramos furos e igarapés, aportamos na agitação do mercado Ver-o-Peso, deslizamos em bailes em que casais dançam juntinho. No percurso, uma diversidade de sons marcam o rio, “nosso altar cultural”, como bem define o poeta e pesquisador da cultura amazônica João de Jesus Paes Loureiro. Nessas águas, “o artista é celebrante e celebrado”, ele completa, em breve aparição.

Com uma fotografia magistral que mergulha nos detalhes de muitas localidades e depois emerge em estonteantes paisagens que esticam horizontes, o filme faz do rio e da floresta, por vezes um teatro ou uma feira, um verdadeiro personagem. O longo plano sequência, silencioso, que abre o filme é um chamado a uma entrega total àquelas águas de muitos ritmos, místicos ou tecnológicos. Parafraseando um dos personagens, que rasga numa festa a quietude da floresta com muita aparelhagem e diz que “Deus é o som”, no filme a imagem é a divindade maior.

Nesse cenário-personagem pelas estradas aquáticas, em seu percurso, vamos conhecendo diversos personagens, anônimos ou não, alguns de raro carisma. É o caso da artista de rua que se apresenta nos arredores do Ver-o-Peso, na capital paraense: Gina Lobrista, filha de pais pernambucanos que migraram para a floresta em busca da fortuna na Serra Pelada. Seguindo a fala da mãe (“Gina, a vida é um palco”), às 6h da manhã, ela já está se arrumando para seguir em direção às ruas de Belém. Ali, com a ajuda de Mister Bacalhau, a cantora de música de corno (com cinco casamentos e outras tantas chifradas, diz ser experiente no assunto) conta vender uns 200 CDs por dia. “Com certeza, sou a artista que mais vende neste Brasil”, dispara, rindo de modo descontraído, sem falsa modéstia.

Outra musa paraense a estrelar o documentário, uma espécie de river movie musical, é Dona Onete, como é conhecida a cantora e compositora Ionete da Silveira Gama, “a diva do carimbo chamegado”. Dona de uma voz melodiosa, que não tem “nem muito açúcar nem muito sal”, ela canta e dança, movimentando o tronco, sentada numa cadeira de rodas. Diz ter uma malemolência amazônica, tal qual “rebujo no remanso”. Hipnotiza quem a ouve com suas encantarias de rio ou da mata, povoados por botos namoradores e protetores como Pena Verde.

A música amazônica, em seus muitos ritmos, com ou sem sotaque, cheia de misticismos, encharcada de gêneros regionais ou mergulhada no universo da sonoridades clássicas, reafirma a identidade de um povo, ou melhor, dos muitos povos que compõem esse pedaço de Brasil feito floresta. Ouvimos ao longo do filme (e também do rio) que este calor amazônico está muito no nosso ritmo, sublinha nossas melhores misturas. Sim, “somos filhos desse ritmo das águas, dessa mãe musical que é a natureza amazônica”.

Texto: Gabriela Romeu/Estúdio Veredas

Fotos: Divulgação

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O toré que move os Kariri-Xocó

“Saímos para poder dar o nome, para saberem que existimos.” A fala de Wyanã Uia-Thê Kariri Xocó, sobre a importância de trazer para zonas urbanas os cantos e as danças do toré, manifestação presente em diversos povos indígenas nordestinos, corta uma manhã barulhenta na cidade de São Paulo. Entre uma buzina de ônibus, uma freada de carro ou o burburinho do próprio lugar, esse mestre dos cantos de seu povo ressalta num falar doce e atento a força dos sons e gestos dessa tradição secular.

“[O toré] significa o que a tristeza significa. Porque tem hora que a pessoa está triste, não sabe lidar com isso. Faz aquela cançãozinha para poder desabafar, lembrar-se. Significa nossa tradição, nossas origens, nosso respeito. Pode não ser um deus, mas é um grande mestre”, explica Wyanã, que, desde pequeno, trabalha com essa tradição de seu povo, habitante da cidade de Porto Real do Colégio, em Alagoas, um grupo há cem anos resistente às invasões do Império brasileiro. Assim como outras etnias indígenas da região, os Kariri-Xocó perderam há tempos os peixes que pescavam no rio, seu território, tiveram subtraída parte de sua língua.

Um século depois, Wyanã segue a tradição de sua família e continua puxando os cantos do toré, ensinados a seus cinco filhos, com quem sonha em gravar em CD. Antes disso, no entanto, é possível ouvir esses cantos e experimentar seus passos na Ciranda de Filmes, no dia 23 de maio, após a exibição do curta-metragem documental “Toré das Crianças”, dirigido por Sandro Egues, que enfoca o poder do canal energético que se cria com os espíritos dos antepassados e da natureza durante tal manifestação.

A cerimônia do toré pode assumir duas formas. A primeira, mais reservada, o ritmo dos cantos é mais profundo, antes até proibidos entre os mais jovens da aldeia. É nela que os rostos são pintados como forma de proteção à essa forte energia espiritual, sua realização está relacionada ao aprendizado e à cura. Nesse chamado “toré espiritual”, as canções são  elaboradas ao vivo, a partir da frequência dos participantes. Já o toré que transpõe o território íntimo da aldeia é mais ritmado, com cantos mais leves. Mesmo assim, ainda há muito de cura e de espiritualidade na cantoria puxada por Wyanã, escolhido mestre de cantos pela conexão que carrega com seus ancestrais.

Em ambas as cerimônias, o mestre vai aos poucos lembrando dos cantos que já ouviu de seus antepassados. Entoadas em duas vozes, as músicas da comunidade ou do grupo respondem aos ritmos que ele recupera. “O toré não é você se preocupar com a letra, é também o sentir, ver aquela energia, liberar-se, trazer a sua criança para poder aprender”, explica Wyanã sobre a manifestação, cuja dança simboliza o dia a dia, a caminhada da vida, e o canto, as palavras, sempre puxadas pela maraca. Tal instrumento musical, batizado de “mestra dos cantos”, representa o planeta Terra. É uma verdadeira professora sabedora das mais diversas melodias.

Quando essa cerimônia desembarca em um lugar como a cidade de São Paulo, traz em suas sonoridades e movimentos a cura dos Kariri-Xocó. É um antídoto para se lidar com a solidão e a depressão, tão comuns nos grandes centros urbanos. Outra possibilidade é promover um encontro entre a zona urbana e o povo que até pouco tempo não era sequer reconhecido como tal. Os Kariri-Xocó são formados por dois povos indígenas, que viviam em lados opostos do rio São Francisco. Quando a terra dos Xocó, na ilha fluvial de São Pedro, em Sergipe, foi invadida pelo Império, parte deles buscou refúgio junto ao povo que vivia ao outro lado do rio. No entanto, a denominação só foi reconhecida num passado recente, após a criação da Funai, em 1967.

Ou seja, assim como nos diz Wyanã no início de nossa conversa: é, sim, preciso cantar e dançar para mostrar o quanto esse povo (re)existe, resiste.

Texto: Luísa Cortés/Estúdio VeredasFoto: Divulgação

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Música: comunicação que transcende a língua

Influenciados em grande parte por referências artísticas europeias e sob um olhar etnocêntrico característico da época, diversos viajantes, cronistas e pesquisadores, dos séculos XVI ao início do XX, classificaram de forma pejorativa as manifestações culturais indígenas. 

Sobre a música dos Botocudo (grupo chamado de Krenak ou Borum, hoje em dia, mais concentrado em Minas Gerais), por exemplo, o naturalista e etnólogo alemão Maximilian zu Wied-Neuwied registrou no início de 1800: “[…] nos homens, o canto se assemelha a um ruído desarticulado, que oscila entre três ou quatro notas, ora subindo, ora descendo, e parece provir do mais fundo do peito […] tudo pareceu-me um simples vozear sem palavras”. Ainda hoje se faz necessário despir-se dessa visão etnocêntrica. Compreender as sonoridades indígenas significa ampliar uma escuta sensível, como explicam as musicistas Magda Pucci e Berenice de Almeida no livro Cantos da floresta – Iniciação ao universo musical indígena, publicado pela editora Peirópolis.

Nesse sentido, um ouvido acostumado, exclusivamente, às músicas originárias dos padrões estéticos centro-europeus e a perceber, muitas vezes, a música como distração, a exemplo do que acontece com a população urbana-ocidental, encontra dificuldades em entender o significado dessa expressão para os povos indígenas. Os povos indígenas, resguardando as particularidades de cada um, compartilham uma relação comum a essa prática: “A música é geralmente considerada parte fundamental da vida, e não complemento ou simples entretenimento, ela quase sempre está imbricada em um caldeirão cultural, no qual todos os saberes estão muito conectados”, comenta a educadora musical Berenice de Almeida. O que para muitos é grito, para os Guarani, é japukaí,o canto forte e estridente da voz aguda das crianças. O que para os mais distraídos aparenta ser silêncio na floresta, para os Kaingang, é a natureza e seus espíritos produzindo som e, assim, afirmando estarem vivos.

A diversidade da música indígena se faz no detalhe. O exótico não tem riqueza musical, é visto como massa amorfa. Reiteração de preconceitos. No território brasileiro, existem mais de 250 povos indígenas, que, juntos, somam cerca 900 mil habitantes, cada um com sua história, seus ritos e sua forma de viver o cotidiano, as suas histórias e sua própria música. Reunir todos em uma categoria de “música indígena” é reduzir um conjunto plural e ignorar as especificidades de cada grupo. Definir a cultura musical dos indígenas como o tocar de tambores oculta a variedade de instrumentos utilizados, que incluem maracás e diversos tipos de sopro. Só reforça estereótipos.

Assim, ao ouvirmos as músicas das muitas etnias brasileiras, podemos refletir que  expressar-se musicalmente é universal, mas cada expressão sonora tem sua singularidade. “Se você não está muito versado nos códigos daquela música, você pode criar estranhamento, achar que não está entendendo. Não é só pela língua, mas pela questão musical propriamente dita”, aponta a etnomusicóloga Magda Pucci, diretora artística do grupo Mawaca. Mas, se existe uma forma de comunicação que transcende a língua, esta se dá pela língua da música. Como quando em períodos pré-históricos, do bater de duas pedras faiscava algum lampejo comunicacional, rítmico, anterior, até mesmo à fala.

A cantora Tikuna Djuena pode, enfim, esclarecer um desses vários entrelaçamentos entre música, experiência e linguagem: “A música para nós, povos indígenas, é nativa, tanto quanto o mais velho ancião. É nativa porque nasce conosco, tem cheiro de fumaça, gosto de mapati e é pintada de urucum e jenipapo. Há música no canto da parteira que acalma a mãe que vai parir e, do lado de fora da maloca, o pajé, ao som do maracá, entoa seus cânticos sagrados para afastar o mal e acalantar os espíritos. O canto faz parte do nosso cotidiano. Cantamos quando nascemos e quando morremos. Há cantoria para botar roça, para pescar e para caçar. Quando chove ou faz sol. Cantamos nos rituais de paz e de guerra. Celebramos a vida através do canto”, diz a cantora, em trecho do inspirador livro Cantos da floresta.

Texto: Miréia Figueiredo

Fotos: Renato Soares e Davi Boarato/Facebook Cantos da Floresta – A Floresta Canta – livros

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Os sons que vêm do sertão

inda na madrugada de Bodocó, no sertão pernambucano, vários pássaros cabeças-vermelhas cantam escondido no meio de um umbuzeiro. Por ser época de umbu, eles acordam e se juntam para comer o fruto, fazendo uma festa enquanto o dia vem raiando. No nascer da manhã registrado no projeto Sonário do Sertão, a orquestra de sonoridades é tão bonita quanto a paisagem que se apresenta aos olhos – e que se apresentará nas instalações da Ciranda de Filmes 2019.

https://soundcloud.com/sonario-trotoar/amanhecer-em-bodoco

Tal sonário é um acervo de sons gravados pelo interior do país, trazendo três territórios do semiárido nordestino brasileiro: Várzea Nova (Jacobina, Bahia), Várzea Queimada (Caém, Bahia) e Bodocó (Pernambuco). O projeto começa com a técnica e desenhista de som Camila Machado ministrando oficinas de captação de áudio para crianças e adolescentes dessas regiões. Os sons captados depois se tornaram material para a oficina de edição de som e, então, expostas em instalações artísticas que envolveram toda a comunidade. Nesses encontros, surgiram maneiras diversas de escuta e produção de sons. Renderam uma colheita de mil registros sonoros que, aos poucos, vêm sendo classificados e indexados no site.
A inspiração para o projeto tem origem nas narrativas da tradição oral, aquelas passadas dos mais velhos aos mais novos: “As histórias têm no universo sonoro um ponto importante na transmissão de saber e também na criação do imaginário das populações sertanejas”. Em parceria com o Movimento dos Pequenos Agricultores,o qual promove uma luta pela permanência do camponês e suas histórias em suas terras, esse acervo de sons valoriza o patrimônio imaterial do sertão, contribuindo com essa luta. É por meio da cultura musical, dos relatos e da memória, das festas e da paisagem sonora que sertanejos e sertanejas afirmam sua identidade.
Assim, no atento registro do cotidiano do semiárido brasileiro, o sertão ecoa no canto dos pássaros, no som de carroças em movimento, nas sonoridades do entardecer, no cacarejar do galinheiro, nas orações de noitinha, nos cantos de trabalho, nas melodias assoviadas durante a plantação da mandioca e nas festas religiosas. As histórias narradas pelas anciãs e pelos anciãos sinalizam o quanto o contar e o cantar tornam-se uma coisa só nesses territórios. Tudo registrado por seus próprios protagonistas no projeto, que valorizou a participação da comunidade,principalmente, crianças e jovens, na construção de sua própria memória sonora.
E da memória, muitos sons ecoaram. “Seu Joaquim é um senhor cego, morador e fundador de Várzea Queimada que lembra de todos os versos e toda a história de sua comunidade. É por conta de sua memória que se conseguiu o registro de comunidade remanescente quilombola, pois sua cabeça e suas histórias são mais fortes do que papelada de cartório”, conta Camila. São palavras e vozes que trazem “a história da região, com detalhes que permitem que a gente imagine a vida toda”.  

https://soundcloud.com/sonario-trotoar/seu-joaquim-conta-sobre-batalhao-e-casa-de-farinha

O registro dessa pluralidade de representações sonoras do patrimônio imaterial do sertão revela a memória coletiva de uma comunidade, permitindo, “desde as subjetividades individuais e suas intersecções com as respectivas culturas, construir coleções capazes de expressar esses universos”. Por conta de sua divulgação emmeio virtual, há uma valorização além daquela dentro da própria comunidade,permitindo que esses registros sonoros naveguem por outros locais e encontrem ouvidos de fora do sertão, sensibilizados pela sonoridade sertaneja.
Uma escuta atenta que permita ouvir essas paisagens e entender suas riquezas exige tempo, e há sons que nos convidam a entrar no tempo deles: “O que podemos fazer é aceitar esse convite e baixar a velocidade do cotidiano para poder escutar os sons ao nosso redor e nos conectarmos com eles. O tempo da escuta é um tempo de conexão, de união e encontro”. Respeitar esses encontros é fundamental para identificar as riquezas sonoras, entendê-las e valorizá-las – e, depois, saber dedicar seu tempo ouvindo o entardecer, os grilos, o vento nas palhas do coqueiro…
Texto: Carolina Tiemi/Estúdio VeredasFoto e sons: Sonário do Sertão

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Cartografia Cirandeira: um guia para ampliar a sua experiência

Este mapa é um convite a explorar novas trilhas, mais do que sonoras. Sim, é uma cartografia cirandeira, ideal para ampliar as experiências vividas aqui. Ou seja, depois de ver os filmes, participar das oficinas e adentrar as rodas musicais, além de refletir, cantar e dançar nas muitas atividades da Ciranda de Filmes, é ainda possível continuar cirandando por linhas ou trilhas temáticas. Em cada rota, há algumas estações (ou diversas sugestões sobre o que ler, ver, ouvir e experimentar) que dialogam com alguns dos nossos filmes em destaque. Então a dica é: escolha um percurso (identidade, infância ou natureza?), confira os filmes do caminho e, depois, desembarque calmamente em uma das estações (um livro?), pule outra parada (uma música?) ou revisite uma terceira (um site?). E, assim, deixe esta Ciranda seguir reverberando em você. Como na vida, cada jornada começa pelo desejo de desbravar novos mundos. 

Boa viagem… E até a próxima volta!

Para ver essa imagem em tamanho grande, clique aqui.

Algumas trilhas:

Infância

Território das experiências primeiras, janela de paisagens imensas, foz das sonoridades da vida. Por esta trilha, encontraremos meninas e meninos transgredindo o próprio viver.

O menino, a favela, as tampas da panela

Direção: Cao Hamburger

Ano de produção: 1995

Duração: 5 min

Gênero: ficção

Sinopse: As peripécias do garoto Zezé para conseguir algumas tampas de panela com o objetivo de tocar na banda com seus amigos. Episódio brasileiro da série Abra porta, cada episódio mostrava a rotina de um país.

A cidade e a infância

Autor: José Luandino Vieira

Editora: Companhia das Letras

Ano: 2007

Número de páginas: 136

Sinopse: Os contos anunciam a paisagem urbana e o contexto de pobreza e marginalidade de Luanda, a oralidade pronunciada da narrativa, o convívio e a tensão entre negros, brancos e mulatos e a crítica da modernização excludente presentes na obra do autor.

Fala de bicho, fala de gente – Cantigas de ninar do povo Juruna

Autor: Cristina Martins Fargetti

Editora: Edições Sesc

Ano: 2017

Número de páginas: 304

Sinopse: O livro é fruto de uma pesquisa inédita sobre o povo tupi da família juruna, feita pela linguista e musicista Cristina Martins Fargetti, em parceria com a compositora, cantora e pesquisadora da cultura indígena brasileira Marlui Miranda.

Pare Olhe Escute

Direção: Kátia Lund

Ano de produção: 2013

Duração: 52 min

Gênero: documentário

Sinopse: A música invadiu as ruas e vielas e entrou pela janela das casas, dando cor e melodia a uma rotina, outrora tão opaca, na pequena cidade de Barra Mansa, interior do Rio de Janeiro. Desde que se iniciou o projeto Música nas escolas, promovido pela prefeitura da cidade, Barra Mansa nunca mais foi a mesma. Dirigido por Kátia Lund e produzido por Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, o filme Pare Olhe Escute mostra, com sensibilidade, a rotina de jovens músicos ao realizarem o sonho de sair em turnê com a orquestra da cidade, acompanhada da pianista Simone Leitão, pelas principais salas de música do país.

Villa-Lobos e os brinquedos de roda

Intérprete: Grupo de Percussão da UFMG e Coral Infantil da Fundação Clóvis Salgado

Gravadora: MCD

Ano: 2004

Gênero: infantil

Descrição: Este álbum é composto por canções de brincadeiras infantis, ambientadas para coro infantil a capella, piano e conjunto de instrumentos, desenvolvidas pelo compositor brasileiro Heitor Villa Lobos (1887-1959).

Tchiribim, tchiribom, cantando pelo mundo

Intérprete: Fortuna e Hélio Ziskind

Gravadora: Selo Sesc

Ano: 2017

Gênero: infantil

Descrição: Fortuna traz melodias de várias partes do mundo. As canções foram pesquisadas e selecionadas para conduzir uma viagem musical pelo mundo sob a ótica das crianças de lugares como Nova Zelândia, China, Itália, Senegal, Egito, Israel, França, México, Mediterrâneo, Japão e Romênia.

O dom da infância: memórias de um garoto africano

Autor: Baba Wagué Diakité

Editora: SM

Ano: 2012

Número de páginas: 144

Sinopse: Um envolvente tributo aos povos, costumes e culturas africanas. São as memórias ilustradas do artista Baba Wagué Diakité, que cresceu em uma pequena aldeia no Mali, criado pelos avós.

Viva – A vida é uma festa

Direção: Lee Unkrich

Ano de produção: 2018

Duração: 105 min

Gênero: animação

Sinopse: Apesar da música ter sido banida há gerações em sua família, Miguel sonha em se tornar um grande músico como seu ídolo, Ernesto de la Cruz. Desesperado para provar o seu talento, Miguel se vê no deslumbrante e pitoresco Mundo dos Mortos seguindo uma misteriosa sequência de eventos. Ao longo do caminho, ele conhece o trapaceiro encantador Hector, e juntos eles partem em uma jornada extraordinária para descobrir a verdade por trás da história da família de Miguel.

Mestres

Aqueles e aquelas que nos inspiram (cri)ações caminham por estas estações. São mestres e mestras dos cantares, fazeres, brincares e também viveres. Escolha sua parada.

Violeta foi para o céu

Direção: Andres Wood

Ano de produção: 2011

Duração: 110 min

Gênero: ficção

Sinopse: Violeta foi para o céu conta a história de uma famosa cantora e folclorista chilena, Violeta Parra, preenchida com seu trabalho musical, suas memórias, seus amores e esperanças. O filme traça sua evolução, da infância humilde até transformar-se em sensação internacional e heroína nacional, com a intensidade de suas contradições internas, falhas e paixões. 

Meninas de Sinhá

Endereço eletrônico: meninasdesinha.org.br

Descrição: Formado por mulheres do bairro Alto Vera Cruz, o grupo é conhecido culturalmente e por seu compromisso social na periferia de Belo Horizonte (MG). Surge em 1989, do desejo de compartilhar experiências e elevar a autoestima.

Missão de pesquisas folclóricas de Mário de Andrade

Intérprete: Vários artistas

Gravadora: Sesc

Ano: 2006

Gênero: música brasileira regional

Descrição: Mário de Andrade também foi pesquisador. Viajou o Norte e o Nordeste brasileiros na década de 1920 e assumiu o Departamento de Cultura de São Paulo na década de 1930, quando catalogou músicas, danças e outras manifestações culturais de diversos estados. Aqui estão alguns desses registros que o inspiraram na escrita de Macunaíma.

Dominguinhos

Direção: Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar

Ano de produção: 2017

Duração: 88 min

Gênero: documentário

Sinopse: Um retrato do sanfoneiro, cantor e compositor Dominguinhos (1941 – 2013), discípulo de Luiz Gonzaga e autor de sucessos como “Eu só quero um xodó”, “Gostoso demais”, “De volta pro aconchego” e “Lamento sertanejo”. Sua obra revive em imagens de arquivo, contando uma história que se multiplica em sons, versos e beleza. 

Cantos de trabalho

Intérprete: Cia. Cabelo de Maria

Gravadora: Sesc-SP

Ano: 2007

Gênero: música popular

Descrição: Canções registradas por Renata Mattar, que pesquisa há mais de dez anos comunidades que ainda trabalham em mutirão e utilizam a música na lida. Entre outras, são cantigas vindas das destaladeiras de fumo de Arapiraca (AL), das descascadeiras de mandioca de Porto Real do Colégio (AL), das plantadeiras de arroz de Propriá (SE) e da colheita de cacau de Xique-Xique (BA).

Casa Mestre Ananias

Endereço: Rua Conselheiro Ramalho, 939, Bixiga, São Paulo

Descrição: Espaço de vivência, transmissão oral e difusão de tradições populares afro-brasileiras, com foco nas expressões da cultura baiana desenvolvidas na capital paulistana, por meio da capoeira tradicional e do samba de roda.

Papageno

Direção: Lotte Reiniger

Ano de produção: 1935

Duração: 11 min

Gênero: animação

Sinopse: Curta da cineasta berlinense Lotte Reiniger, pioneira da animação no mundo. Conta a história de Papageno, personagem da ópera de Mozart “A Flauta Mágica”, que sonha com uma parceira mas tem dificuldades em encontrá-la.

Resistência

Uma boa dose de teimosia, um bocado de persistência. Não importa as circunstâncias, os personagens das narrativas deste percurso seguem cantando seus sonhos, suas lutas.

O ídolo

Direção: Hany Abu-Assad

Ano de produção: 2015

Duração: 100 min

Gênero: ficção

Sinopse: Mohammad é um garoto de Gaza que sonha em cantar na Ópera do Cairo para que o mundo ouça sua voz. De alguma maneira, consegue escapar da prisão que é Gaza e chegar até as audições em Cairo para o Arab Idol, o programa de talentos mais famoso da região. Conforme avança para as fases finais da competição, deve confrontar seus próprios medos para tomar as rédeas de seu destino e trazer esperança e felicidade para toda uma região. A plateia assistirá Mohammad passar por uma jornada para mudar de vida. Um drama inspirador baseado na incrível história real de Mohammad Assaf, vencedor do Arab Idol 2013. 

Reza de mãe

Autor: Allan da Rosa

Editora: Nós

Ano: 2016

Número de páginas: 104

Sinopse: Primeira reunião impressa da produção do autor em contos, inaugura também uma abordagem linguística e literária que contempla a dura vivência na periferia sob o prisma afro-brasileiro, dos movimentos negros que germinam nas franjas da metrópole, que já estabeleceram uma produção cultural de inédito colorido poético.

Cozinha Ocupação 9 de julho

Endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 427, Consolação, São Paulo

Descrição: Tradicional almoço mensal de domingo em um prédio abandonado pelo INSS, no centro de São Paulo. Hoje, o espaço é ocupado pelo Movimento dos Sem Teto do Centro – MSTC e mais amplamente pela FLM.

A ciência encantada das macumbas

Autor: Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino

Editora: Mórula Editorial

Ano: 2018

Número de páginas: 124

Sinopse: Neste conjunto de ensaios, Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino propõem uma interpretação do Brasil a partir do conhecimento acumulado nas religiões de matriz afro e em outros saberes populares.

Maestrina da favela

Direção: Falani Afrika

Ano de produção: 2018

Duração: 82 min

Gênero: documentário

Sinopse: A vida da maestrina Elem Silva é retratada no documentário Maestrina da favela, da diretora afroamericana Falani Afrika. O longa traz cenas emocionantes em dez anos de registros cinematográficos do universo musical e da realidade social de Salvador, a partir da vida da percussionista e maestrina Elem Silva. Elisete “Elem” de Jesus da Silva criou a banda Meninos da Rocinha do Pelô para retirar crianças das ruas do Pelourinho. Nesses 15 anos, ela perdeu a mãe e alguns membros da banda, mas nunca perdeu o sonho de tornar-se uma maestrina. No filme, Elem conta sobre sua realidade de maneira autônoma e extremamente engajada. 

Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis

Autor: Jarid Arraes

Editora: Pólen

Ano: 2017

Número de páginas: 176

Sinopse: Jarid Arraes usa a linguagem poética da literatura de cordel para contar a história de mulheres brasileiras que fizeram a história do Brasil, seu objeto de pesquisa desde 2012.

Claudia Andujar: No lugar do outro

Autor: Claudia Andujar

Editora: IMS

Ano: 2015

Número de páginas: 256

Sinopse: O catálogo é fruto de dois anos de pesquisa no arquivo da fotógrafa Claudia Andujar, dedicado ao período que se estende da chegada da fotógrafa em São Paulo, em 1955, até as primeiras viagens para a Amazônia, no começo dos anos 1970. Foi lançado em 2015 a propósito da exposição Claudia Andujar: no lugar do outro, no IMS Rio.

Marie Ange Bordas

Endereço eletrônico: marieangebordas.com

Descrição: Site da artista Marie Ange Bordas, que realiza projetos colaborativos desde 2000. Esses trabalhos a levaram a morar na África do Sul, no Quênia, no Sri Lanka, na França e na Inglaterra, e suas exposições de arte viajaram pelos cinco continentes.

João, o galo desregulado

Direção: Camila Carrossine e Alê Camargo

Ano de produção: 2013

Duração: 10 min

Gênero: animação

Sinopse: Musical que narra a história de João, um galo com um comportamento atípico que chegou a ficar famoso por cantar na hora em que bem queria. Foi surpreendido pelas mudanças no tempo e por uma inesperada transferência de morada. As pessoas não imaginavam a tristeza que a falta do galo causaria… Ele acabou sendo lembrado todas as vezes que o vento soprava. Baseado em fatos reais. 

Identidade

Aqui, em cada parada, o convite é mirar ou ouvir um jeito de ser ou estar no mundo. Quem somos? Para onde vamos? São algumas das perguntas para neste caminho percorrer.

Fevereiros

Direção: Marcio Debellian

Ano de produção: 2017

Duração: 75 min

Gênero: documentário

Sinopse: A partir do vitorioso carnaval da Mangueira em homenagem a Maria Bethânia, o filme percorre uma viagem entre Rio e Bahia, acompanhando a cantora no universo familiar, festivo e religioso que inspirou o enredo. 

Instituto Brincante

Endereço: Rua Purpurina, 412, Vila Madalena, São Paulo

Descrição: O Instituto Brincante é um espaço de conhecimento, assimilação e recriação das inúmeras manifestações artísticas do país, que celebra a riqueza da cultura nacional e a importância da sua diversidade. Tem como foco a pesquisa e reelaboração da cultura brasileira. Novos valores, novas maneiras de construir saberes e proporcionar ao indivíduo um outro modo de pensar as relações na sociedade contemporânea.

Festa do boi no Morro do Querosene

Endereço: Morro do Querosene, Butantã, São Paulo

Descrição: Comandada por Tião Carvalho e o Grupo Cupuaçu, a tradicional festa de rua do bumba-meu-boi acontece há mais de 20 anos. É comemorada todo ano, três vezes ao ano: em abril há o nascimento do boi, em junho o batizado e em novembro a morte.

Amazônia resiste

Endereço eletrônico: apublica.org/especial/amazonia-resiste/

Descrição: O projeto Amazônia Resiste é uma ampla investigação jornalística da Agência Pública sobre a resistência indígena em vários pontos da maior floresta tropical do mundo.

Amazônia groove

Direção: Bruno Murtinho

Ano de produção: 2018

Duração: 84 min

Gênero: documentário

Sinopse: Cruzando a Amazônia paraense, Amazônia Groove revela artistas e tradições musicais que pulsam numa região pouco conhecida pelos próprios brasileiros. As extraordinárias vidas dos protagonistas e a intangível força do lugar estão em cada fotograma do filme. Tal força, fruto de antigas culturas, faz emanar uma sonoridade única, diferente de tudo que a maioria de nós já experimentou nos cinemas. A partir de seus artistas, o filme dá voz a uma parte fundamental do Planeta Terra, estendendo o olhar do Brasil e do mundo para uma quase desconhecida tradição musical que tanto tem a nos revelar. 

Mapeando afetivamente a foz do rio Doce

Endereço eletrônico: www.cartografiadafoz.com

Descrição: Projeto que registra uma rede de conexão entre territórios, saberes, afetos, tradição e identidades na foz do rio Doce. Um mergulho nessas águas, buscando neste percurso memórias, tradições, as práticas e os afetos que ligam a população capixaba ao Doce.

Feira Kantuta

Endereço: Praça Kantuta, s/n, Canindé, São Paulo

Descrição: A feira da Kantuta acontece todos os domingos em São Paulo, quando mais de 90 barracas trazem a cultura e os sabores bolivianos para a cidade.

Projeto Humanae, de Angélica Dass

Endereço eletrônico: angelicadass.com/humanae-project

Descrição: Humanae é um projeto fotográfico que pretende coletar um alcance cromático das diferentes cores de pele humanas. A taxonomia adota o formato do Guia PANTONE®.

Maré capoeira

Direção: Paola Barreto

Ano de produção: 2005

Duração: 14 min

Gênero: ficção

Sinopse: Maré é o apelido de João, um menino de 10 anos que sonha em ser mestre de capoeira como seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar que atravessa várias gerações. O curta mistura ficção e documentário para contar uma pequena história de amor e guerra. 

Natureza

As trilhas da natureza nos levam a atalhos da interioridade. Ou seja, o que muitas das estações daqui nos sinalizam é que procurar esses territórios é encontrar-se na essência.

Meus oito anos

Direção: Humberto Mauro

Ano de produção: 1956

Duração: 11 min

Gênero: ficção

Sinopse: Ao som do poema musicado de Casimiro de Abreu, um homem rememora com nostalgia os tempos de criança: a vida no campo, a captura de passarinhos, o jogo de bolas de gude com os colegas, as brincadeiras com arco e perna de pau. Recorda-se também dos banhos de cachoeira, da pescaria, da companhia de uma menina, da ida à missa, da colheita de frutas (jabuticabas e pitangas) e do balanço na rede ao luar. E lembra-se da praia, das ondas do mar e do céu nublado de sua infância.

GPS da natureza

Endereço eletrônico: criancaenatureza.org.br/gps-da-natureza/login

Descrição: O GPS da Natureza traz sugestões de locais ao ar livre para visitar e atividades, em função do seu tempo disponível, de quem está no seu grupo, do clima, e de onde você está.

Há prendizajens com o xão (o segredo húmido da lesma & outras descoisas)

Autor: Ondjaki

Editora: Pallas

Ano: 2011

Número de páginas: 72

Sinopse: Livro de poemas de Ondjaki, mais conhecido no Brasil como prosador. Oferece uma escrita que contrói (ou desconstrói) com muita intimidade cada palavra, cada verso, à sombra das árvores, pela alma das gaivotas, perto de um cardume de tardes. Ou do chão.

Maquinação do mundo – Drummond e a mineiração

Autor: José Miguel Wisnik

Editora: Companhia das Letras

Ano: 2018

Número de páginas: 328

Sinopse: O pesquisador José Miguel Wisnik viaja a Itabira, a cidade natal de Drummond, e percebe traços do passado que levaram à elaboração do poema Maquinação do mundo, como a atividade mineradora.

Orquestra da natureza: sons do nosso planeta em transformação

Direção: Robert Hillman

Ano de produção: 2016

Duração: 24 min

Gênero: documentário

Sinopse: Viajando ao redor do planeta para todos os continentes desde o fim dos anos 60, o reconhecido músico ecologista sonoro dr. Bernie Krause gravou mais de 15.000 espécies marinhas e terrestres. O filme acompanha Bernie Krause numa expedição no Arctic National Wildlife Refuge, oferecendo um casamento único de ciência e arte. O trabalho de Krause demonstra que as origens da música estão nos lugares mais selvagens do mundo, e que a natureza fornece sons que são uma importante conexão com o mundo natural, assim como com o nosso íntimo.

Wild sanctuary

Endereço eletrônico: wildsanctuary.com

Descrição: Desde 1968, Wild Sanctuary viaja pelo mundo para gravar, arquivar pesquisar e expressar a voz do mundo natural – sua paisagem sonora.

Urubu

Intérprete: Tom Jobim

Gravadora: Warner Brothers

Ano: 1996

Gênero: MPB

Descrição: Urubu foi gravado em Nova York pela banda base formada pelo próprio Tom (piano, Fender Rhodes e vocal), Ron Carter (baixo), João Palma (bateria) e Ray Armando (percussão), e grande orquestra com arranjos e regências de Claus Ogerman.

Canções praieiras

Intérprete: Dorival Caymmi

Gravadora: Odeon Fonográfica

Ano: 1954

Gênero: MPB, samba

Descrição: Quando, em 1954, Dorival Caymmi (1914-2008) reuniu em disco suas canções com temática praieira e as interpretou somente com a voz e o violão, deu o pontapé num estilo de composição que influenciou direta ou indiretamente gerações de músicos no Brasil.

Being hear

Direção: Palmer Morse e Matthew Mikkelsen

Ano de produção: 2017

Duração: 10 min

Gênero: documentário

Sinopse: Durante a maior parte de sua vida, Gordon Hempton esteve em busca das paisagens sonoras inumeráveis e multifacetadas da natureza como um ecologista acústico ganhador do Emmy. Durante esse tempo, ele se tornou um mestre de uma habilidade que é, indiscutivelmente, uma arte que está morrendo: ouvir. Em Being hear, ele compartilha insights sobre as comunicações constantes e matizadas da natureza, a alarmante extinção de lugares não afetados pela atividade humana, o modo como a quietude pode abrir nossos olhos para a imagem maior e os benefícios de simplesmente prestar atenção ao lugar. O silêncio, como ele mesmo diz, “é o melhor conselheiro da alma”. 

Cura

Ao sintonizar nestas estações, descobrimos o poder de cura da música, potente em superar traumas, relembrar o que realmente importa neste caminhar.

As hiper mulheres

Direção: Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro

Ano de produção: 2012

Duração: 80 min

Gênero: documentário

Sinopse: O filme conta a história de um homem que, temendo a morte da esposa idosa, pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar mais uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.
 

Casa Jaya

Descrição: O espaço funciona como um laboratório de experimentação, que, a partir de tecnologias sustentáveis, auxilia no aproveitamento dos recursos locais. Ali, plantas e elementos naturais resgatam o microclima de nossa região e harmonizam o ambiente – valorizado por espécies nativas, medicinais e ornamentais.

Endereço: Rua Capote Valente, 305, Pinheiros, São Paulo

Fulkaxós

Intérprete: Wyanã Uia-Thê Kariri-Xocó

Gravadora: Cipó Records

Ano:

Gênero: toré

Descrição: A música de Wyanã Uia-Thê Kariri Xocó, nascido na Aldeia Kariri Xocó em Porto Real do Colégio, Alagoas. Aos 26 anos de idade, começou a fazer seus próprios cantos sempre com o despertar da maraca, instrumento sagrado e muito usado nas cerimônias.

Vivo por dentro: uma história de música e memória

Direção: Michael Rossato-Bennett

Ano de produção: 2014

Duração: 78 min

Gênero: documentário

Sinopse: Por meio de sua organização sem fins lucrativos Música e Memória, Dan Cohen defende o uso da terapia com música para pacientes com demência.

Escrita curativa, de Geruza Zelnys

Descrição: Criada por Geruza Zelnys em 2014, conjuga a escrita criativa ao seu potencial terapêutico por meio de um método autopoiético. O curso é baseado em nove encontros que acontecerão às terças-feiras, de agosto a outubro de 2019, com turmas no período da tarde (das 14h30 às 17h) e da noite (das 19h30 às 22h). As vagas são limitadas e há possibilidade de abertura de outras turmas em outros dias da semana. Telefone para contato (11) 98655-6522 e nas redes sociais (Geruza Zelnys, Facebook e Instagram).

Híbridos

Endereço eletrônico: www.hibridos.cc

Descrição: O que, a princípio, seria um único filme sobre alguns rituais brasileiros acabou evoluindo para uma coleção de mais de 100 filmes sobre os rituais espirituais da América Latina.

Palavras ao vento

Direção: Sylvain Vincedeau

Ano de produção: 1995

Duração: 7 min

Gênero: animação

Sinopse: Certa manhã, um jovem acorda, levanta e se veste. Ao beber seu chá na janela da cozinha, vê a vizinha em frente chorando. Tocado por essa tristeza, decide fazer alguma coisa. Em uma folha escreve uma palavra, dobra o papel em forma de avião e o lança no ar.

Escuta

Escutar o mundo, escutar a nós mesmos, escutar o outro, escutar a infância. Ser escutado. Nesta caminhada, cada parada pede que estejamos com todos os sentidos em alerta.

Todos juntos

Direção: Kristóf Deák

Ano de produção: 2015

Duração: 25 min

Gênero: ficção

Sinopse: Ambientado em 1991, segue a história de uma menina que se muda para uma nova escola primária e logo se torna membro do coro premiado da instituição.

Radio Garden

Endereço eletrônico: radio.garden

Descrição: Projeto holandês de pesquisa radiofônica e digital, em que se navega a partir de uma representação do globo terrestre, escutando transmissões de estações de rádio locais.

Ouvir o rio, de Cildo Meireles

Endereço eletrônico: itaucultural.org.br/ocupacao/cildo-meireles/

Descrição: rio oir é um trabalho sonoro: um disco contendo sons de água, de um lado, e sons de risadas, de outro.

A grande orquestra dos animais

Endereço eletrônico: www.legrandorchestredesanimaux.com/br

Descrição: Divulga o trabalho do músico Bernie Krause, que durante mais de 40 anos tem percorrido o mundo para gravar os sons da natureza. O seu repertório tem 5.000 horas.

Ouça o silêncio

Direção: Mariam Chachia

Ano de produção: 2016

Duração: 80 min

Gênero: documentário

Sinopse: Só porque você não escuta, não significa que não possa ser ouvido. O filme observa Luka, de 11 anos, que decidiu dar um passo dentro do nosso mundo através da música e da dança.

Hilda Hilst pede contato

Autor: Gabriela Greeb

Editora: Sesi

Ano: 2018

Número de páginas: 240

Sinopse: O livro traz material inédito sobre as fitas que a escritora Hilda Hilst utilizava para tentar se comunicar com os mortos, com transcrição de trechos e storyboard e partitura do filme homônimo.

Cantos da floresta

Endereço eletrônico: cantosdafloresta.com.br

Descrição: Dirigido a professores e educadores musicais, trata-se de conteúdo transmídia (livro, CDs e site) com atividades de contextualização, jogos, brincadeiras, escuta sensibilizadora e dinâmicas didáticas envolvendo as músicas de povos indígenas.

O som da terra, de Doug Aitken

Endereço: Fazenda Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais

Descrição: A obra se fundamenta em um furo de 200 metros de profundidade no solo, onde foi instalada uma série de microfones para captar o som da Terra. Este som é transmitido em tempo real no interior de um pavilhão de vidro, vazio e circular.

Song of the new earth

Direção: Ward Serrill

Ano de produção: 2014

Duração: 87 min

Gênero: documentário

Sinopse: O filme retrata a ardente busca do pesquisador de som, psicoterapeuta e xamã sônico Tom Kenyon para integrar a ciência moderna e o misticismo antigo através do poder do som. Sua rara capacidade de decifrar brilhantemente a ciência curativa do som, resulta em um documentário hipnotizante e transformador. 

Experimentações

Esta é uma rota para quem não teme experimentar o novo ou deseja seguir sempre desbravando o desconhecido. A cada nova parada: uma inusitada descoberta.

Caixas de música

Direção: Georges Gachot

Ano de produção: 2017

Duração: 8 min

Gênero: documentário

Sinopse: Um registro fascinante das máquinas usadas pela indústria que produz caixas de metal. Os mecanismos e sua sonoridade, ritmo e movimento automático tornam-se músicos de uma orquestra e os dançarinos de uma performance surpreendente.  

Um jogo chamado música – escuta, experiência, criação, educação

Autor: Teca Alencar de Brito

Editora: Peirópolis

Ano: 2019

Número de páginas: 200

Sinopse: Uma abordagem pedagógico-musical livre e criativa multiplica as possibilidades de transformar pessoas, em territórios formais e informais da educação.

Muitas coisas, poucas palavras – A oficina do professor Comênio e a arte de ensinar a aprender

Autor: Chico dos Bonecos

Editora: Peirópolis

Ano: 2009

Número de páginas: 119

Sinopse: Peça radiofônica ou palestra cantarolante ou livro em voz alta em que predominam a sensibilidade, a emoção a paixão para pôr em prática o princípio de que é preciso mostrar a arte de ensinar em ação.

Gradma Lo-Fi: the basement tapes of Sigrídur Níelsdóttir

Direção: Orri Jónsson, Kristín Björk Kristjánsdóttir e Ingibjörg Birgisdóttir

Ano de produção: 2011

Duração: 62 min

Gênero: documentário

Sinopse: Na tenra idade de 70 anos, ela começou a gravar sua própria música diretamente da sala de estar. Sete anos depois, ela tinha 59 álbuns com mais de 600 canções – uma imensa e excêntrica mistura de composições cativantes com brinquedos, percussão com utensílios de cozinha e teclados Casio. Sigridur Nielsdottir é o nome dela e em pouco tempo tornou-se uma figura cultuada na cena musical islandesa, representada aqui por seus jovens aprendizes Mugison, Mum e Seabear.  

André Abujamra

Endereço eletrônico: andreabujamra.net

Descrição: Com um trabalho voltado à abertura para o novo, o compositor, cantor, multi-instrumentista, ator e produtor constrói uma carreira marcada pela mistura de todo tipo de música, “sem preconceitos”.

O Grivo

Endereço eletrônico: ogrivo.com

Descrição: Pesquisa fontes sonoras acústicas e eletrônicas, a construção de “máquinas e mecanismos sonoros”, e o uso de instrumentos musicais tradicionais de forma não convencional.

Música para elefantes

Direção: Amanda Feldon

Ano de produção: 2014

Duração: 47 min

Gênero: documentário

Sinopse: Esta história começa com um elefante cego, chamado Pla-Ra. Paul Barton levou seu piano para ElephantsWorld, um santuário nas margens do rio Kwai na Tailândia, e começou a tocar enquanto ele comia. Pla-Ra ficava paralisado por um momento e então enrolava sua tromba e a segurava em sua boca até que a música terminasse, não importando quanto tempo durasse a canção. Cada vez que se tocava música para Pla-Ra, seja flauta ou piano, ele tinha a mesma reação. Desde esse dia extraordinário, Paul tocou para diferentes elefantes com excelentes resultados.  

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Olhares Olhares 2019

O cessar da fala, a ascensão da voz

O tremor das teclas do piano sendo transportado sobre o asfalto irregular emite som grave, misterioso. O barulho dos carros na rua contrasta com o silêncio da sala de instrumentos. Lá dentro sobressai o ruído do ventilador ligado, os parafusos sendo afrouxados, as fivelas que prendem o corpo de madeira sendo ajustadas. Escuta-se o tecido. O atrito da pele do dedo nas tiras de couro. Em poucos minutos, uma voz instrumental se destaca nesse universo sonoro, dá nome ao filme: “O Piano que Conversa”

Dirigido por Marcelo Machado, o documentário sem depoimentos nem “cabeças falantes” investe na experiência sinestésica de assistir à música. A fala humana pouco aparece. Em um canto ou outro. Divide a mesma importância na tela que o som de uma folha sendo rasgada, uma calçada sendo cimentada. Como intérprete, para puxar papo com o piano, está o pianista Benjamim Taubkin, que, de São Paulo para o mundo, há tempos é mestre nas misturas do erudito e do contemporâneo. No piano, faz um exercício diário de criação. Com a música, percebe a vida.

É a partir dos encontros de Taubkin e seu piano (ou, talvez, do piano e seu pianista) com diferentes artistas, de variadas nacionalidades e musicalidades, no Brasil, na Bolívia e na Coreia do Sul, que acompanhamos esta saga musical. Sensorial, o filme leva o espectador a sentir diferentes tipos de música, criados pelo homem ou pela natureza, em muitas partes do mundo. No percurso, pulsa o coração dos instrumentos, observamos em detalhes suas entranhas, percebemos sua pele. A música mais do que narra.

O conceito do filme surgiu para seguir uma direção diametralmente oposta ao último trabalho de Marcelo Machado, Tropicália, de 2012. “Depois de Tropicália, um documentário ao qual me dediquei por cinco anos com muita pesquisa de arquivos, leitura e esforço de entendimento, queria mudar o registro, mudar a forma de me relacionar com meu objeto. Queria viver a relação com a música em outro plano, menos racional ou apoiado no intelecto que se expressa primordialmente na palavra”, explica o diretor que tem abordado diferentes gêneros, movimentos e instrumentos musicais, no cinema e na televisão, ao longo da carreira.

A escolha do artista a ser representado ocorreu quase como consequência natural à escolha do formato: “Percebia nele [Benjamin Taubkin] características que se encaixavam nessa busca e comecei a gravar alguns ensaios, testes, experimentos que me levaram a essa ideia de um documentário sem palavras, um mergulho no universo sensorial. Ele entendeu, aceitou e se colocou totalmente em sintonia com esse objetivo, de forma que hoje considero o Benjamim coautor do documentário”.

O pianista, por sua vez, conta que o chamado foi um desafio e tanto, “porque fala direto ao lado direito do cérebro…vira uma experiência”. Como indica o título, o protagonista é o piano. O seu repertório e o seu fazer musical que prima pelo cuidado com a troca, pela riqueza do diverso, no entanto, é o que dá substância ao registro.

No documentário, Taubkin é gravado em momentos de criação, conectando-se com outros artistas, como um percussionista israelense, uma cantora moçambicana ou uma violoncelista polonesa. Seguindo o tempo da música, algumas cenas evidenciam o piano e o pianista animando em parceria com uma guitarra do Pará, num estilo de pop tropical, uma festa na periferia da zona sul de São Paulo, criando música ritualística numa comunidade tradicional da Bolívia junto a instrumentos típicos da cultura andina, como a tarka e o siku (tipos de flautas), e experienciando momentos mais contemplativos em um palco na Coreia do Sul.

“Acho que sou uma espécie de ponte entre as várias músicas que o filme traz. É um pouco como me sinto… em constante diálogo com as possibilidades de se criar a partir da experiência de cada um. A música permite essa vivência, é uma amálgama do que cada um traz. E dali nasce algo novo, que inclui e preserva o que cada um aportou. Algo que, na vida cotidiana, as pessoas têm dificuldade em realizar – e daí grande parte dos conflitos que temos vivido. Uma espécie de ignorância das possibilidades.”

O pianista, que começou seus estudos musicais com 18 anos, recorda que, embora sempre tivesse música na sua casa e sua própria mãe tocasse piano, demorou a associar o gosto pela escuta a algo mais prático como o tocar. Esse desejo surgiu no início da década de 70, quando ouviu os discos Matita Perê, de Tom Jobim, e Água & vinho, de Egberto Gismonti.

Daí em diante, aos poucos, a música foi adquirindo contornos mais definidos em sua vida, apontando para um lugar que pedia por participação, por um corpo presente e em movimento (seja em São Paulo, seja em Tongyeong). Ou, como ele mesmo define: “Música como o futuro – aquilo que a humanidade pode vir a ser e viver, como indivíduo e sociedade, o próximo estágio do ser humano… no sentido de que cabe tudo, em harmonia, se quisermos as diferenças são bem vindas, as possibilidades estão todas ali. Dizem que Beethoven foi estudar filosofia na universidade. E ficou pouco tempo, pois, para ele, todas essas questões estavam presentes na música. E eu consigo vislumbrar isso”.Assim, do encontro desses dois homens, cada um apaixonado por música a sua maneira, o piano foi o convidado que merecidamente ganha atenção especial na conversa. Um instrumento capaz de dialogar com a natureza e tocar aqueles que falam outros idiomas. Emocionar com uma voz que se estende em oitavas e se arranja entre bemóis e sustenidos. Filme feito, tal emoção foi percebida pelo público. Em debates em escolas da periferia de São Paulo, uma jovem falou algo que ecoa na dupla: “Ela disse que, quando lemos um livro, imaginamos as cenas. Neste filme, imaginamos as falas”.

Texto: Miréia Figueiredo/Estúdio Veredas

Fotos: Divulgação 

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Olhares Olhares 2019

O cinema nunca foi mudo

“Quando as `terminações nervosas` do músculo-música e da epiderme-imagem se conectam, pode-se ver uma nova criança multimídia surgir no mundo, começando a respirar (…). Esse feliz casamento entre imagem e música é um exemplo fascinante de quando o todo é alguma coisa muito maior que a soma das partes.”

Assim o compositor sueco Johnny Wingstedt, artista pesquisador da narrativas musicais, define a imbricada ligação da música a outros meios narrativos. Esse é também o tema de Tony Berchmans, compositor, pesquisador e produtor musical, que há tempos estuda como composições sonoras e conjuntos de imagens se mesclam no trilhar da história no cinema e estará na Ciranda de Filmes 2019! Na mostra, o pianista ministrará a oficina A música do filme e também brindará a plateia com uma sessão do Cinepiano,  projeto no qual improvisa a trilha sonora musical ao vivo durante a exibição de uma obra, utilizando temas de sua autoria e excertos de música folclórica ou clássica, sempre em diálogo com as narrativas da telona.

Grande apreciador do gênero música para cinema, ainda criança, aos 7 anos de idade, ele começou seus estudos musicais; aos 21, passou a trabalhar com composição e produção de música para imagem; aos 36, lançou o livro A música do filme – Tudo o que você gostaria de saber sobre a música de cinema; e aos 41, criou o projeto Cinepiano, com o qual realizou mais de 140 apresentações em lugares diversos, incluindo diferentes públicos e variados temas. “Considero este meu projeto do coração. Além de tentar trazer uma experiência única para o espectador, também busco ilustrar de modo mais claro o poder narrativo da música.”

A música num filme acompanha movimentos, provoca emoções, determina contextos históricos e geográficos e cria suspenses. No cinema, “a princípio, a música é funcional, aplicada, programática, descritiva, narrativa. Em geral, as composições musicais estão ‘a serviço’ do filme e são reunidas pelo conceito da funcionalidade”. E completa, citando o maestro e compositor italiano Ennio Morricone: “Quando componho música para um filme, trata-se de uma obra minha, mas ela está a serviço da obra de um outro autor, o diretor”. Tal abordagem é o que caracteriza a composição para cinema como algo particular: “O músico que compõe para cinema por vezes é considerado um dramaturgo musical, e sua música pode ser considerada um elemento conarrador do filme”.

A música sempre existiu no cinema, diz o artista. Até no período do chamado “cinema mudo”, o cinema não era silencioso, já que frequentemente as exibições recebiam algum acompanhamento sonoro. Com a participação de um pianista solo e até de grandes orquestras sinfônicas, a música estava presente, o que transformava a experiência de se ver um filme numa imersão audiovisual singular, única. Com o surgimento dos primeiros filmes projetados com som (sendo O cantor de jazz, de 1927, um dos marcos dessa leva da sétima arte), imaginou-se um cenário em que a música ao vivo não seria mais necessária para criar climas e contextos emocionais, já que ela rapidamente deu lugar à gravação ótica do som no mesmo suporte físico do filme – a trilha de som ao lado dos fotogramas da película, o que deu origem ao tão famoso termo “trilha sonora”.

O cinema assumiu as melodias e seus potenciais sugestivos para enriquecer suas narrativas. E se vale desse uso até os dias de hoje, mesclando os recursos tecnológicos com a música ao vivo, que permitem a criação de trilhas sonoras extremamente complexas, ricas e diversas: projetos como o Cinepiano, a captação de sons da natureza, naipes tradicionais de uma orquestra, instrumentos étnicos ou paisagens sonoras criadas por potentes softwares e geradores eletrônicos de sons. “Espere um minuto, espere um minuto, você ainda não ouviu nada”, escutamos na cena de O cantor de jazz, considerada a primeira frase falada do cinema. Era só um aviso para o que se sucederia nessa arte.

Segundo o artista, no entanto, a música é o elemento mais subestimado do complexo conjunto da construção audiovisual. “Apesar da unânime e pregada importância da música na narrativa fílmica, os mecanismos que lhe conferem essa importância são frequentemente misteriosos até para profissionais reconhecidos da área. A música original composta para os filmes é um dos aspectos menos discutidos da linguagem cinematográfica e daí vem meu fascínio pelo aprofundamento nesse estudo tão carente”, defende o compositor.

Ao considerar que o olhar é um sentido que se sobressai num primeiro momento de apreciação de uma obra, precisamos então treinar nossos ouvidos para uma escuta mais consciente dos sons no cinema. Para isso, Berchmans busca desmistificar no público a magia da música no cinema, trazendo conceitos e informações que façam as pessoas apreciar os filmes com outros ouvidos. Ele explica como notar que determinada música influencia sua interpretação em relação a uma específica construção audiovisual, desencadeando uma reflexão produtiva.

E logo sugere: “Ao ver uma cena, tente identificar qual a responsabilidade da música em relação à emoção que a cena transmite. Hoje, com tanta tecnologia, além de aplicativos e streaming, não é difícil testar pequenas mudanças sonoras para identificar o poder da música. A brincadeira de se mudar a música de uma cena conhecida é habitual e ilustra como ela é de fato uma poderosa ferramenta”. Resta, então, na próxima ida à sala de cinema, ampliar a escuta para se permitir (de ouvidos abertos) desvendar as muitas nuances dessa sétima arte.

Texto: Carolina Tiemi/Estúdio Veredas

Fotos: Divulgação

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Olhares Olhares 2019

A menina que rege o Pelourinho

Uma Rocinha, em Salvador, acomoda-se como quintal do Pelourinho. A comunidade que serve de habitação para uma população que se equilibra na corda bamba para garantir a sobrevivência fica encostada num dos principais pontos turísticos da Bahia e recebeu esse nome justamente por trazer o aspecto de roça à cidade, com árvores frutíferas e chão de barro. É um ponto verde no conglomerado de casas do centro histórico; hoje, refúgio de muitos meninos e meninas percussionistas. De lá, escuta-se o som do mar, o som das árvores, o som dos bichos. É onde a cidade canta. Essa música, orgânica, sempre esteve presente na região, mas anos atrás faltava um projeto que tirasse as pessoas do papel de ouvintes e as incluíssem ativamente no fazer musical.

Foi nesse contexto geográfico, social e cultural que, aos sete anos de idade, uma menina chamada Elem Silva, idealizou um projeto de ensino musical e fundou em 2003 a banda de samba-reggae Meninos da Rocinha do Pelô. E sua trajetória pouco convencional, de como passou a comandar uma banda com tão pouca idade, inspirou outra jovem, a norte-americana Falani Afrika, à época com apenas 18 anos, instigada a produzir o documentário “Maestrina da Favela”, um dos destaques exibidos nas telonas da Ciranda de Filmes deste ano. Elem (ou Elisete, como consta na sua certidão de nascimento) tinha 13 anos quando ocorreu o primeiro contato entre elas. Desde então, as duas passaram a ter encontros anuais durante dez anos, período em que Falani registrou o crescimento de Elem e a evolução de seus processos.

O aprendizado da música, o compartilhamento desse saber com outros adolescentes, a relação da menina com a mãe e a maturidade que tinha para lidar com as adversidades são questões abordadas no filme, que também foca na importância do gênero do samba-reggae para a região, como importante afirmação da identidade afro-brasileira. Sendo Salvador a cidade com a maior população afrodescendente do mundo, o estilo musical relacionado ao candomblé, marcado pelo som de surdos, dobras, repiques e caixas, reforça, claro, a cultura local.

Quando bem pequena, Elem tentava reproduzir o som desse estilo musical já familiar com baldes que pegava de um comércio próximo de casa. Aos cinco anos, ganhou de duas freiras norte-americanas atentas ao talento da menina seu primeiro instrumentos: um pequeno atabaque. Outra grande incentivadora foi a mãe, que, dois anos antes de vir a falecer, usou o dinheiro que conseguiu com a venda de um bar que tinha na Rocinha para comprar para a banda da filha alguns instrumentos, usados até hoje. O episódio da morte da figura materna impactou as gravações do documentário. Era muito difícil conversar sobre um sonho sem ter sua maior apoiadora ao lado.

Numa trajetória cheia de batalhas cotidianas, outro ponto de virada sensível na vida de Elem ocorreu em 2007, quando, aos 13 anos, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). Após uma série de suspeitas e exames, ela foi diagnosticada com uma doença rara. Em 2015, dois anos depois de seu segundo AVC, como consequência de uma embolização cerebral, outro desafio: teve perda de memória recente. Ao chegar ao Pelourinho depois de deixar o hospital, a jovem que conhecia sua comunidade como a palma da própria mão, de repente, não sabia mais identificar onde estava. Nas caminhadas, esqueceu os nomes das ruas e, na música, algumas batidas. Os meninos da banda, assim, ajudaram a maestrina a relembrar esses ritmos e retomar sua posição de regência.

Autodidata, ela foi com o tempo observando como os donos de bandas regiam seus grupos, analisando cada toque e gesto. E explica quais foram as suas intenções ao adentrar esse universo musical: “O que me impulsionou a sair tocando foi a vontade de ensinar às crianças da minha comunidade, pois elas estavam dentro do Pelourinho, mas eram esquecidas. Muitas pessoas tinham preconceito, até mesmo com a nossa banda, só por ser de uma favela”, diz Elem, sempre preocupada em aliar com maestria educação musical e desempenho escolar.

Os desafios de sua saga tão pessoal quanto vocacional vêm sendo recompensados. Depois da produção do documentário, novas oportunidades relacionadas à música começaram a surgir. Por causa de uma iniciativa da produtora do filme, recebeu a doação de mais 12 instrumentos da escola de música Global Music nos Estados Unidos e, em 2012, foi para Londres participar de um evento no SouthBank Centre para aprender como se organiza um festival. No ano seguinte, a sua banda realizou no Pelourinho um festival com duração de 12 horas, incluindo a participação de 10 jovens multiplicadores de arte, representantes de diferentes projetos.

Há dez anos, a Rocinha está fechada para a conclusão de um projeto de revitalização. Recuperar o contato com esse lugar que serviu de berço para sua musicalidade por enquanto não é mais possível. Apesar disso, mantendo firme seu olhar para no horizonte, os trabalhos com a banda continuam. O instrumental da música Asas de Luedji Luna que havia sido tocado durante depoimentos ao longo do filme, nos créditos, enfim, recebe o acabamento vocal. Em dois versos, deixa clara a potência de Elem: “Para que te quero, asas? / Se eu tenho ventania dentro”. Versos que bem definem uma menina que movimenta tempestades, maestrina.

Texto: Miréia Figueiredo/Estúdio Veredas

Foto: Divulgação e acervo pessoal Elem Silva 

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Olhares Olhares 2019

Caçadores das vozes da natureza

Nas cidades, recebemos passivamente todos os sinais ao redor, compondo uma espécie de playlist caótica de sonoridades compostas por passos de transeuntes, buzinas de carros, freadas de ônibus, murmurinho do comércio. Já na natureza, uma melodia silenciosa tem cadência com o correr das águas, o cair das folhas, o som dos pássaros, compondo uma paisagem musical sem intervenção direta do homem. Para conviver nesses arranjos de muitas massas sonoras, nos meios urbano ou rural, é preciso, antes de tudo, saber ouvir as notas.

“Ao invés de ouvir um som, eu simplesmente ouço o lugar”, diz Gordon Hempton, um mestre cuja habilidade é uma arte que arrefece pouco a pouco: ouvir. Para o músico, protagonista do curta-metragem “Being Hear” (Palmer Morse, Matthew Mikkelsen; 2016), um dos destaques da Ciranda de Filmes 2019, a quietude permite que cada som receba sua importância original. Em busca de lugares livres de poluição sonora, encontrou na natureza o estado mais bruto dos sons, com conjuntos sonoros inumeráveis e multifacetados de um ambiente que se comunica de modo tão cheio e rico quanto nós humanos o fazemos.

O silêncio é o melhor conselheiro da alma. Numa narrativa subjetiva, em primeira pessoa, a voz de Gordon faz ecoar reflexões como essa, dirigidas a uma sociedade que vive em plena era da informação, repleta de ruídos, entre outros tantos excessos. Suas indagações tocam as falas constantes e matizadas da natureza, sempre ávida em comunicar, a alarmante extinção de lugares não afetados pela atividade humana e o modo como a quietude pode abrir nossos olhos (ou melhor, ouvidos) para renovadas percepções. Ao gravar sonoridades genuínas da natureza, seu interesse não é só o som ou o silêncio em si, mas o treino para se tornar um melhor ouvinte.

Outro caçador dessas vozes da natureza é o músico norte-americano Bernie Krause, reconhecido mestre da bioacústica (estudo dos sons de animais vivos) que, desde 1960, roda os rincões do planeta, por desertos, pântanos, mares e florestas, entre outros lugares com diminuta intervenção humana, para gravar as sonoridades de uma ampla diversidade de paisagens. Krause, que já fez som com lendas do showbiz como Bob Dylan, George Harrison e Stevie Wonder, coleciona há décadas uma biblioteca de sons abarcando mais de quatro mil horas de gravação e 15 mil espécies em seu habitat natural. E quantos estamos nós atentos a ouvir as muitas falas da flora e da fauna, para além das reverberações humanas?

Quando menino crescido em Detroit, o músico lembra que se deitava à noite ao som dos pássaros e dos ventos. De sua janela que se abria para uma ampla paisagem, ficava imaginando que mundos sonoros seriam aqueles distantes e desconhecidos. Mas, criado por pais que inacreditavelmente “odiavam” animais, proibidos dentro de casa, isso foi o máximo de aproximação que experienciou com o mundo natural na infância. Já a música chegou bem mais cedo em sua vida: ainda garoto, começou a estudar violino. Ao perceber que com tal instrumento na mão não atrairia a atenção das garotas, decidiu dedilhar o violão. Percorreu um longo caminho até chegar ao estudo da orquestra existente (para quem está aberto a ouvir) na natureza.

É essa música do mundo natural que ouvimos ecoar no curta-metragem documental Nature’s orchestra: sounds of our changing planet (Robert Hillman; 2016), em que o pesquisador ressalta a necessidade da humanidade se desconectar um pouco dos sons das cidades e das máquinas. Numa sociedade tão orientada pela visualidade, um tanto dispersiva, ele aponta que os sons da natureza nos conectam com que nós somos, com o nosso mais profundo interior, num verdadeiro chamado imersivo.

Ao gravar os sons naturais, ele explica, é possível interpretar muito rapidamente as consequências da atividade humana no planeta. Os cientistas e ambientalistas estudam geralmente o que veem – e não o que ouvem. E o que vemos é bem diferente do que ouvimos. Os habitats podem parecer o mesmo, mas dificilmente soam o mesmo, ele defende. Cada espécie sussurra algo único, singular. “Mesmo em uma floresta densa como a da Amazônia, se você cortar apenas algumas árvores ali, as consequências serão sentidas em grande escala pelos animais que ocupam esse lugar há muito tempo. Ou seja, um efeito profundo no som que será sentido muito rapidamente. Nós temos que pensar nas formas como estamos afetando esses lugares e perguntar a nós mesmos se é isso o que queremos, o silêncio do mundo natural”, diz o pesquisador em entrevista à revista Galileu.

No filme desse colecionador de sons naturais, muitos deles captados em terras brasileiras, em cantos da floresta amazônica ou da mata atlântica, escutamos de perto suas buscas numa expedição às paisagens inóspitas do ártico, nos arredores do Arctic National Wildlife Refuge, uma das últimas fronteiras do nosso planeta, onde é possível andar semanas em qualquer direção, norte ou sul, sem ouvir um som de carro na estrada ou o ruído do trinco enferrujado de uma porteira. Ao desembarcar lá com sua equipe, incluindo sonoplastas, naturalistas e poetas, no fim de primavera, quase verão, registra sons tão sutis e imperceptíveis quanto o derreter do gelo. É que “a música do mundo natural contém os segredos do amor de todas as coisas, especialmente de nossa humanidade”, conclui.

Texto: Carolina Tiemi e Gabriela Romeu/Estúdio Veredas

Fotos: Divulgação

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Olhares Olhares 2019

Eduardo Coutinho: canto no escuro

O cinema de Eduardo Coutinho (1933-2014) se constrói em dois tons: o de sua voz e o da voz de seu interlocutor. Assim, a partir de um emaranhado multivocal, um conjunto de poucas notas e acordes descomplicados concebe uma sinfonia. O falar e o ouvir, a voz e o ouvido, aos pares, comandando partes de uma narrativa que tem geralmente como foco as histórias banais de personagens comuns.

Assim como em “As Canções”, filme integrante da Ciranda de Filmes 2019, longa-metragem em que homens e mulheres anônimos contam e cantam músicas que marcaram suas vidas.

No filme, o penúltimo filme que dirigiu e o último que finalizou, três anos antes de sua morte, em 2011, o cineasta chega melodicamente a algumas histórias sobre amores, saudades e perdas, depois de uma pesquisa, uma escuta atenta e cuidadosa, envolvendo 237 homens e mulheres, com idades entre 22 e 82 anos, em diferentes localidades do Rio de Janeiro, do Largo da Carioca ao Leblon, do Arpoador ao Morro da Babilônia, da Feira de São Cristóvão a Ipanema.

O cenário, o mesmo já aproveitado em Jogo de cena (2007), o palco de um teatro, é pensado para criar uma outra atmosfera, evidenciando uma nova versão de Coutinho. Totalmente em preto, o plano de fundo dos depoimentos põe em destaque os entrevistados. Atrás das câmeras, o diretor se coloca mais participativo na narrativa. Nem tanto orientado a contestar a fala dos personagens, permite-se ser envolvido por aquelas palavras, por vezes cantaroladas. É como explica Fábio Andrade em O canto dos mortos – As canções de Eduardo Coutinho: “O Coutinho de As canções não mais acentua as lacunas no relato do entrevistado; ao contrário, ele se instala nelas […]”.

Como exemplo poderia ser citado o momento quando ele completa a música de Noel Rosa que a personagem Déa cantava e da qual esqueceu um trecho da letra. Ou, ainda, quando deixa escapar um canto baixinho de Fascinação junto com outra personagem, Maria Aparecida. Além delas, outros quinze protagonistas se apresentam no palco, onde compartilham histórias ligadas a grandes amores, relembram o remorso de palavras não ditas. Alguns só cantam, sem ter falas explicativas incluídas no corte do diretor. Outros, cantaram desde pequenos, cantam pela vida e cantam mais de uma canção.

Seus filmes dão abrigo para as histórias que são contadas e, desse modo, se expõem aos riscos de lidar com substância sensível, frágil, “palavras ditas por quem não costuma ser escutado”. “Ao criar um cinema tão dependente da invenção narrativa de outros, Coutinho abre mão de uma parcela da soberania que lhe pertence como autor. Ao confiar nos seus personagens, renuncia parte de sua autoridade”, comenta João Moreira Salles, no prefácio do livro O documentário de Eduardo Coutinho – televisão, cinema e vídeo, de Consuelo Lins.

As canções deixa claro a concepção de um projeto cinematográfico sempre em movimento. E trata de acrescentar camadas a sua personalidade de entrevistador, a de entrega e espontaneidade. Reforça a captura do agora. O filme, que tem por intenção contar memórias das pessoas relacionadas à música, transforma o recurso da entrevista, já conhecido pelo diretor, em “uma verdadeira celebração do encontro”, como evidencia Fábio Andrade. O presente é a matéria do registro e nele cabem celulares tocando no meio da gravação, choros inesperados e pausas para o pensamento.

Toda a composição de “As Canções” tem como objetivo direcionar a atenção para os personagens e o que eles dizem. A estética minimalista, a locação única, os enquadramentos estáticos. O diretor não aparece e sua voz é pontual. Em alguns momentos, como mencionado anteriormente, é carregado por suas emoções e interfere de maneira mais incisiva. Isso, no entanto, só reitera o poder dos discursos, capaz de retirar o entrevistador de sua posição de neutralidade. Os discursos orquestram o filme. Coutinho trabalha com a potência das falas e, ao contrário dos métodos televisivos de entrevista, valoriza e aproveita os silêncios.

Aí está a música de sua obra, composta por sons e pausas. A temática do filme, então, adquire ainda mais força por resgatar as histórias ligadas às canções e ao deixar os entrevistados sem palavras nem notas. A canção, que seria a representação de um momento, não abrange a experiência por completo, resta o silêncio. O documentário, como ele mesmo explica, gênero indefinido, traduz a incapacidade de definir sentimentos e a beleza disso.

No texto Um documentarista à procura de personagens, Cláudio Bezerra explica a mudança dos personagens apresentados por Coutinho do período em que ele trabalhou no Globo Repórter (1975-1984) para o que sucedeu Cabra marcado para morrer (1984). O que antes eram personagens atribuídos a papéis de herói e vítima, mais tarde, foram transformados em personagens contraditórios. A complexidade desses personagens e a estruturação de seus documentários na palavra gerada deram liberdade para que as pessoas atuassem em frente às câmeras. Daí, da exposição da natureza performática, a teatralidade se revela “como uma segunda natureza humana”. Uma dessas formas de performar, Bezerra descreve justamente como “performance musical”, predominante em “As Canções”, o recurso já havia sido explorado em outros filmes. Como Henrique, Nadir e Paulo Mata que cantam em Edifício Master; Fátima, Paulo Sérgio, Jorge e Luiz Carlos em Babilônia 2000.

A música, de uma forma ou de outra, sempre esteve presente nos filmes desse que é um dos mais emblemáticos cineastas brasileiros. Embora tenha elaborado um procedimento, ou um dispositivo, como costumava definir, que prezasse pela captura do som direto, sem adição de elementos sonoros na montagem, uma musicalidade marcante e genuína surgia de seus entrevistados. Era inerente à teatralidade deles. Nesse sentido, “As Canções” surge como uma espécie de homenagem a essa arte que dá tônus à existência humana. Talvez como forma de afirmar o que seus filmes nunca haviam dito tão claramente: a trilha sonora existe e ela importa.

Texto: Miréia Figueiredo/Estúdio Veredas

Foto: Divulgação