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Olhares Olhares 2020

Dez filmes para crianças

ou melhor,

DEZ FILMES PARA VER COM AS CRIANÇAS

por Helvécio Ratton

Imagem do filme “O balão vermelho”

O grande desafio dos filmes infantis, ou filmes dirigidos a todos os públicos como prefiro chamá-los, é serem capazes de entreter tanto às crianças quanto aos adultos que assistem o filme com elas. São raros os filmes que conseguem a proeza de fazer o público infantil mergulhar em sua fantasia ou aventura e, ao mesmo tempo, seduzir os adultos com sutilezas e referências que só nós compreendemos, o que nos faz sentir co-autores da própria narrativa. Assistir filmes assim com as crianças enriquece a elas e a nós, e possibilita uma troca de opiniões e emoções que transforma o tempo que passamos frente à tela em um momento mágico. Nos tornamos companheiros de uma mesma viagem.

Mas não é fácil encontrar filmes assim. A grande maioria são histórias mal contadas e mal cuidadas, que muitas vezes funcionam apenas como vitrines de produtos dirigidos ao público infantil. Nesses filmes a criança não é tratada como espectador de luxo, mas como consumidor de lixo.

Na lista abaixo estão filmes que assisti na infância  ou anos mais tarde com minhas filhas. São filmes de épocas e estéticas diferentes, mas que ficaram gravados na retina e no coração. São dez filmes que atiçam a inteligência das crianças e tocam seus sentimentos. Dez filmes com alma.

O MÁGICO DE OZ, Victor Fleming (1939)

Um clássico do cinema americano, o musical O MÁGICO DE OZ conta a história da menina Dorothy e seus três companheiros de jornada: um espantalho sem cérebro, um homem de lata sem coração e um leão medroso,  que buscam algo que não sabem que já possuem. Produzido há mais de 60 anos, O MÁGICO DE OZ não envelhece, como os verdadeiros contos de fada.  

ET – O Extra-Terrestre,  Steven Spielberg  (1982)

Um pequeno ser extra-terrestre cai em nosso planeta e é acolhido por um menino que o esconde em sua casa. A moderna fábula de Spielberg trata de sentimentos de abandono e rejeição e traz uma das cenas mais emocionantes da história do cinema, quando a bicicleta do menino, com o ET a bordo, começa a voar e se recorta contra a lua.

MEU TIO, Jacques Tati (1958)

Com a cumplicidade do sobrinho, um tio excêntrico e um tanto desligado bagunça a vida de uma família rica que vive rodeada de modernidades inúteis. Dirigido e interpretado pelo genial comediante francês Jacques Tati, o filme é uma sátira bem humorada dos costumes burgueses, onde se dá mais importância às aparências do que aos verdadeiros valores humanos. 

DUMBO, Walt Disney (1941)

DUMBO, além de ser um dos melhores filmes de animação da Disney, o que não é pouco, é um dos melhores filmes de todos os tempos. A história do pequeno elefante de grandes orelhas, ridicularizado por todos e depois idolatrado por sua capacidade de voar, é uma fábula sobre a superação de obstáculos e o amor entre mãe e filho. Algumas cenas são antológicas, como o delírio alcoólico de Dumbo e o ratinho Timóteo e quando os urubus o ensinam a voar.

PELE DE ASNO, Jacques Demy (1970)

Adaptação do célebre conto de fadas de Perrault, tem uma jovem e linda Catherine Deneuve como a princesa com quem o pai quer se  casar e por isso é obrigada a fugir dele. A direção refinada de Jacques Demy soube utilizar bem os castelos e cenários da França para dar um clima de realidade à fantasia. Assim como o conto que lhe deu origem, o filme se mantem sempre atual, expondo sentimentos que parecem não mudar com o tempo.

BRANCA DE NEVE, Walt Disney (1937)

Primeiro desenho animado de longa-metragem dos estúdios Disney, BRANCA DE NEVE estabeleceu um padrão de animação que poucos filmes puderam acompanhar, mesmo os realizados depois pela própria Disney. A cena em que a madrasta se transforma em bruxa é de uma força dramática impressionante, uma das melhores representações do mal mostradas até hoje no cinema. 

O BALÃO VERMELHO,  Albert Lamorisse  (1956)

Uma pequena obra prima, este filme de curta-metragem conta a relação inesperada entre um menino e um balão que teima em segui-lo pelas ruas de Paris. Utilizando recursos simples, mas de forma muito engenhosa, o filme nos convence de que o balão realmente tem vida própria para extrair daí humor e poesia. O final é belíssimo, com milhares de balões voando no céu de Paris.

A GUERRA DOS BOTÕES, Yves Robert (1962)

No interior da França, dois bandos de meninos combatem entre si e os troféus das batalhas são os botões das roupas dos perdedores. Nessa guerra de meninos, como nas outras,  há fracos e fortes, corajosos e covardes, e os valores do grupo levam as crianças a entrarem em conflito com suas famílias e com a escola. Um ótimo roteiro que deu origem a um filme humanista e bem realizado.

UM DIA, UM GATO, Vojtech Jasny (1963)

O personagem central do filme é um gato que tem o dom de enxergar o caráter dos homens. Aos olhos desse gato, as pessoas ganham cores diferentes segundo suas virtudes ou defeitos. Os invejosos ficam amarelos, os apaixonados vermelhos e o filme vai por aí afora, falando do comportamento humano de forma leve e divertida, mas crítica ao mesmo tempo. Produzido na Tchecoslováquia socialista dos anos 60, no final vencem os bons e os falsos são desmascarados, como nas boas fábulas do gênero.

TOY STORY, John Lasseter  (1995)

Primeiro filme de longa-metragem totalmente criado no computador, conta a história dos brinquedos de um menino que têm medo de serem abandonados quando seu dono ganha brinquedos novos. Sentimentos como ciúme e rejeição, tão conhecidos das crianças, são muito bem trabalhados no filme. TOY STORY surpreende pelo poder de comunicação dos personagens e pela alta qualidade da animação. Foi um salto enorme, um marco  em relação às experiências anteriores de animação via computador. Os outros dois filmes que vieram na sequência mantem a qualidade no alto, o terceiro da série TOY STORY é ótimo.

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Filmes

Minha Vida de Abobrinha

Ma vie de Courgette

Abobrinha é um apelido intrigante para um menino de 9 anos de idade, e sua história única, apesar de única, é surpreendentemente universal. Após a morte repentina de sua mãe, Abobrinha torna-se amigo do policial Raimundo, que acompanha o garoto até seu lar adotivo repleto de outros órfãos de sua idade. A princípio, Abobrinha luta para encontrar seu lugar nesse ambiente estranho e, por vezes, hostil. Assim, com a ajuda de Raimundo e novos amigos, Abobrinha aprende aos poucos a confiar, encontrar o amor verdadeiro e ao final uma nova família para si.

Leia mais: Abandono, arquétipo da infância

Animação, Suíça, França, 2016, 67 min, Livre

Direção: Claude Barras
Roteiro: Claude Barras, Céine Sciamma, Morgan Navarro, Germano Zullo
Elenco: Gaspard Schlatter, Sixtine Murat, Paulin Jaccoud

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atividades oficina

Caixas da natureza

com Ana Carol Thomé do Ser Criança é Natural 

Para quem:

50 famílias participantes

Quando:

1.º encontro

dia 8/11, domingo, às 11h 

2.º encontro 

dia 15/11, domingo, às 11h

3.º encontro 

dia 6/12, domingo, às 11h

Como será:

Caixas da Natureza é uma brincadeira de trocas entre FAMÍLIAS de todo o Brasil. A ideia é que as famílias participantes possam conhecer a natureza que existe nos locais onde brincam, ao seu redor, a natureza que você vive e experimenta.

Cada família inscrita irá criar uma caixa com as suas boas experiências com a natureza. Dentro cabe fotografia, carta, elementos da natureza, postais e o que mais registrar a sua relação com a natureza do entorno.

Para viver essas boa experiências, não é preciso viajar ou estar em imersões em reservar ou unidades de conservação. Basta abrir os olhos e perceber o mundo ao seu redor. Pequenas caminhadas no entorno do bairro, praças, parques, ou na sua própria casa.

A partir dos dados dos participantes, criaremos uma ciranda de trocas.
 

Ana Carol Thomé é pedagoga, especialista em educação lúdica, psicomotricidade e educação inclusiva. Professora da Rede Pública, atua no programa de inclusão escolar. Idealizou e coordena o programa Ser Criança é Natural do Instituto Romã desde 2013. Trabalhou em Escolas da Floresta no Reino Unido e pesquisa iniciativas que relacionem educação e natureza pelo mundo. Estuda a abordagem Pikler e desenvolvimento infantil. Professora por profissão, educadora de coração, brincante desde o nascimento. Acredita no poder da infância e que o mundo pode ser melhor. 

Ser criança é natural nasceu em 2013, com a chegada de Ana Carol Thomé ao Instituto Romã. Desde então atuamos em duas frentes – família e educação, promovendo experiências para as crianças e formação para os adultos.
Dentre as ações realizadas estão os encontros e as oficinas para brincar com a natureza em família, formações de educadores, cursos virtuais, rodas de conversa, palestras, assessoria em escolas e a brincadeira Caixas da Natureza.

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atividades oficina

Criando Juntos, com o projeto
De Criança Para Criança

Oficina de produção de desenhos para filmes de animação.

Como será:

No primeiro encontro da oficina do De Criança Para Criança – DCPC, os participantes serão convidados a ouvir uma história contada pelo artista plástico e idealizador do projeto, Vitor Azambuja e, em seguida, desenhar um dos elementos que a compõem.

Depois de desenhados, esses elementos serão fotografados pelas crianças, seus pais, educadores ou responsáveis, e enviados para a produção do DCPC.

A equipe do DCPC irá animar e sonorizar esses desenhos e, no encontro de encerramento da oficina, os participantes de ambas as turmas se encontrarão para assistir juntos aos filmes que foram animados a partir dos seus desenhos.

Este método do DCPC contribui para o exercício das linguagens verbal, visual, gestual e sonora. E o processo de criação de histórias e produção de filmes animados e livros com os desenhos das crianças, faz com que elas desenvolvam áreas importantes ao mesmo tempo em que brincam e se divertem.

E vejam só que bacana a surpresa que preparamos para todos!!! A Giulia Benite, o Kevin Vechiatto, a Laura Rauseo e o Gabriel Moreira, atores que fizeram os personagens Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão no filme Turma da Mônica: Laços, estarão presentes no encontro final para assistir os filmes, bater um papo com as crianças, responder perguntas e contar as suas experiências no set de filmagem do Lições, sequência de Laços, que será lançado em breve!  

Para saber mais sobre o projeto De Criança Para Criança visite a sessão Coleção.

Para quem:

50 crianças em duas turmas de 25 cada.

Sugestão de idade: 6+

Quando:

1.º encontro

Turma 1: dia 7/11, sábado, às 11h 

Turma 2: dia 7/11, sábado, às 15h

2.º encontro 

Turmas 1 e 2: dia 15/11,
domingo, às 15h

Onde:

Online, pela plataforma ZOOM 

Material:

papel A4, lápis de cor e canetas, fita adesiva e aparelho celular para fotografar. 

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Diário da Mostra

Crianças cirandeiras

Veja fotos das crianças que cirandaram conosco nas cinco edições da Ciranda de Filmes, mostra-mãe da Ciranda Cirandinha.

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Coleções

Fundação Casa Grande

Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri

Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde, músicos de formação popular, iniciaram em 1985 uma pesquisa etno-musical sobre os mitos e as lendas do povo da Chapada do Araripe, vale do Cariri cearense que resultou em 1992 na criação da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri, uma Fundação Privada, sem fins lucrativos e Não Governamental (ONG), Utilidade Pública Federal, Certificada pelo Conselho Nacional de Assistência Social- CNAS e condecorada em 2004 com a Ordem do Mérito Cultural pela Presidência da República do Brasil.

A Fundação tem como objetivos pesquisar, preservar, coletar, juntar em acervo, comunicar, exibir e publicar para fins científicos, de estudo e recreação, a cultura material e imaterial do homem Kariri e de seu ambiente. Em 2009, a Fundação Casa Grande recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN, a outorga de ‘Casa do Patrimônio da Chapada do Araripe’. 

Para contar sobre essa experiência empírica e viva da Casa Grande, ninguém mais apropriado do que os seus próprios fundadores.

Por isso, escolhemos trechos da dissertação de doutoramento em Arqueologia de Rosiane Limaverde:

ARQUEOLOGIA SOCIAL INCLUSIVA – A FUNDAÇÃO CASA GRANDE E A GESTÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DA CHAPADA DO ARARIPENOVA OLINDA, CE, BRASIL“, orientada por Maria da Conceição Lopes e apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em Novembro de 2014.

A Ciranda Cirandinha de Filmes convida a todos a adentrarem nessa experiência pelo olhar e corpo vivido de Rosiane!  

“A Fundação Casa Grande utiliza dos conhecimentos sistematizados pela arqueologia, no delineamento de soluções práticas e caminhos frente aos problemas concretos da comunidade de Nova Olinda, Chapada do Araripe, Brasil. 

Essa comunidade através de suas crianças, pôde legitimar a herança do patrimônio arqueológico como guardiãs da memória local, construindo cidadania e dignificando suas próprias vidas. Essas heranças revividas, foram recriadas e retransmitidas pelas próprias crianças na construção da cidadania: Inventariando, conhecendo, preservando, partilhando e divulgando os antigos e novos saberes. 

Com essa experiência, pôde-se ainda inferir que a arqueologia deve sim, proporcionar e desenvolver os interesses científicos e sociais de produção de conhecimento sobre a herança cultural numa pequena comunidade, inserida em um macro contexto arqueológico, como a Chapada do Araripe e o Nordeste do Brasil. Neste processo de entrega do patrimônio cultural à contemporaneidade a arqueologia inscreve um potencial fundamental de desenvolvimento de uma Arqueologia Social Inclusiva, embasada numa experiência concreta, mas ao mesmo tempo intangível de reafirmação de identidade. 

(…) antes mesmo da Casa Grande abrir suas portas, centenas de olhinhos curiosos já fitavam o interior da casa pelas frestas das janelas e das portas. Ao abri-las, a Casa Grande foi literalmente ‘invadida’ por muitas crianças que vinham de todos os lados da cidade, das pontas de rua e queriam escutar aquelas cantigas e narrativas das lendas, dos mitos, dos artefatos e fotografias indígenas que emolduravam as paredes da Casa. Foi assim que surgiu os primeiros pequenos condutores que espontaneamente guiavam casa à dentro mostrando o acervo arqueológico aos visitantes que ali chegavam e para eles contavam as lendas e recriavam os mitos do povo Kariri… 

Nova Olinda poderia ser apenas uma típica cidadezinha nordestina de 15 mil habitantes, daquelas sociedades que Lévi-Strauss classificaria de “sociedade simples”, ou seja, aparentemente harmônicas e resistentes as mudanças em suas culturas, oferecendo melhores condições para a identificação das estruturas mentais inconscientes (…)

Seria muito comum a outras cidades do interior do Brasil em seus problemas sociais emergentes como subemprego, defasagem escolar, falta de perspectiva de vida, falta de saneamento básico e onde a palavra “arte” é apenas sinônimo de traquinagem da molecada na rua. 

Mas Nova Olinda teve a sorte de ser o palco de uma ação protagonizadora com as suas bases firmadas no patrimônio arqueológico como uma ferramenta de inclusão social galgada na experiência de protagonismo juvenil das crianças e jovens inseridos na Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri e como cenário o patrimônio cultural da Chapada do Araripe. Surgida de um ideal imaginado através das narrativas das lendas e mitos dos povos da Chapada do Araripe e resultante de uma pesquisa etnomusical de um casal de jovens músicos, a Fundação Casa Grande foi protagonizada desde o seu princípio pelas crianças do Município de Nova Olinda. 

(…)

O nosso desafio no início da Fundação Casa Grande, foi o de promover uma ação educativa que proporcionasse a esses meninos e meninas do sertão do Brasil ferramentas formadoras e norteadoras para a ampliação do repertório cultural, gerando perspectivas e oportunidades de inclusão social. Tudo isso só seria possível pelo acesso, vivência e internalização de novos saberes e conteúdos de qualidade em assuntos que ampliassem o repertório, como: Memória, Identidade, Patrimônio, Mitologia, Arqueologia, Gestão Cultural, Meio Ambiente, Arte, Cidadania, Turismo Comunitário e Sustentabilidade. Eu posso dizer que neste caso, a memória foi o elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletivo das crianças e jovens na medida em que ela também se tornou a partir do protagonismo dessas crianças e jovens, um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência da comunidade e de sua reconstrução de si. 

O início do percurso deu-se por meio da nossa pesquisa sobre os sons e a musicalidade dos mitos, o que revelou um outro território encantado do Cariri e também os vestígios arqueológicos do homem pretérito que habitou o vale da Chapada do Araripe, promovendo a criação de um Museu de referência sobre a pré- história regional – o Memorial do Homem Kariri – para acolher o acervo doado por populares através de descobertas fortuitas20. 

Depois de restaurada a Casa, as crianças de Nova Olinda, chegaram ao espaço e se identificaram com as cantigas e histórias que narravam os mitos e o acervo pré- histórico dos primeiros habitantes da Chapada do Araripe. Com o tempo, a novidade do museu foi dando lugar ao sentimento de pertencimento aquele espaço, um ambiente onde os mitos e lendas contadas por seus avós, estavam ali personificados e justificados nos artefatos líticos e cerâmicos dos antigos parentes indígenas. Aquelas crianças foram os primeiros guias mirins do Memorial e atualmente, acompanhados de profissionais qualificados, realizam a gestão, mapeamento e monitoramento ambiental dos sítios arqueológicos da Chapada do Araripe. A comunidade também teve sua identidade e autoestima valorizadas pelos seus mais dignos representantes, às crianças, e apreenderam o significado do Memorial do Homem Kariri como parte de suas vidas. (…)” Rosiane Limaverde


Era uma vez uma Casa Azul


Educação Patrimonial 

Exposição Tempo de Brincar

Letícia Diniz é fotógrafa e diretora da Tv Casa Grande, onde dirige a série 100 Canal. Em 2019, lançou a sua primeira exposição “Tempo de Brincar” na Galeria de Artes da Fundação Casa Grande. Na Ciranda Cirandinha de Filmes, participa da roda de conversa Na infância para a infância.

100 Canal

O 100 Canal foi criado para divulgar a produção da TV Casa Grande para a comunidade de Nova Olinda após a ANATEL ter proibido à sua transmissão e lacrado a TV, em 2000 e passou em 2002 a ser exibido no ritual das programações do Teatro Violeta Arraes – Engenho de Artes Cênicas.

Us Cabinha – Clipe Eu Vou

Pintura da Casa Grande

Ra In Mundo

100 Canal Terreiro Duro

Meninos da Rua do Quaxinim 

Pingo – O filme

Visite o site da Casa Grande para conhecer mais sobre a Fundação!

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Diário da Mostra

Escuta! A ciranda cirandinha
já começou a rodar

“Eu queria avançar para o começo” 

Friedrich Nietzsche, sobre seu anseio de evoluir ao estágio de criança, em Assim Falou Zaratustra 

Neste desafiador 2020, ano do nascimento da Ciranda Cirandinha de Filmes, a mostra se propõe a oferecer uma programação dedicada às crianças, aos jovens, suas famílias e a todos que buscam manter viva a sua criança interior, de diversão e de ampliação do seu repertório e experiência com o cinema e o audiovisual, como uma resposta às urgências de um período em que as perspectivas se desmancham na necessidade de reinventar a subjetivação coletiva. 

É preciso avançar para o começo. Por isso, a mostra começa antes mesmo de sua abertura, voltando o seu olhar ao futuro para exercitar a confluência entre curadoria e espectadores e, de certa forma, “validar” a sua programação de longas e curtas a partir da influência e orientação dos sentimentos do seu público mais direto: as crianças e os jovens. 

Em parceria com Luciana Tavares e Ataliba Benaim, do Instituto Gestalt de Vanguarda Claudio Naranjo, foram organizados e realizados encontros, por intermédios da Prof. Lourdinha, coordenadora do CEI Agostinho Pattaro de Campinas, SP, da Prof. Neimara, professora do Fundamental II na cidade de Angatuba, interior de SP, e do Aécio Diniz, jovem liderança da Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, CE. 

Neste encontros, as crianças assistiram aos curtas Mitos indígenas em travessia, Dona Cristina perdeu a memória e Viagem na Chuva, que fazem parte da programação da mostra, como disparadores da conversa e, em seguida, participaram de uma dinâmica de diálogo com o Ataliba e Luciana, que propuseram que eles entrassem em contato com seus imaginários a partir da manifestação de suas memórias e sonhos. 

As crianças e os jovens foram também estimulados a desenharem e a gravarem vídeos para externalizarem a sua imaginação acerca do futuro de todos nós. 

Por hora, vejam alguns dos desenhos feitos por eles, além de imagens desses encontros.

Em breve, compartilharemos relatos sobre as sessões e outros materiais!      

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Olhares Olhares 2019

Um convite para ouvirmos a música do silêncio

or Mauro Muszkat

Levantei algumas reflexões para podemos trocar em um diálogo aberto inspirado por este documentário delicado de Mariam Chachia, da Georgia: Ouça o silêncio(Listen to the silence). O filme é, para mim, um convite para que ouçamos o silêncio, ouçamos atentamente a música do silêncio. Mas de que silêncio esse filme tão tocante e sensível nos fala?

Aquele que contrasta com a tagarelice ruidosa de nosso época, cheia de palavras sem qualquer ressonância com emoções verdadeiras? O silêncio daqueles que, como Luka [protagonista do filme], não têm as palavras como veículo para suas emoções e aprendizagem? O silêncio, necessário da nossa mente, para estarmos atentos para os sinais e ritmos sutis do nosso corpo?

A busca silenciosa e a resiliente necessidade de pertencimento das crianças, mesmo diante de tantas singularidades como o protagonista: surdo, hiperativo, impulsivo, as vezes aparentemente agressivo e desconcertante, mas essencialmente encantador, humano e comovente.

“Ouça o silêncio”não é apenas um convite, mas, acima de tudo, um chamado, é um chamado para todos nós: 1) Pais, que não compreendem a linguagem, o código ou o comportamento dos próprios filhos, mas não desistem de empreender afetivamente novas possibilidades de aproximação. 2) Educadores, que não apenas insistem nas regras e nos métodos formatados, que podem ser moldes ou ferramentas, mas que não servem para todos. Os passos síncronos da dança georgeana não possibilitam que Luka expresse sua individualidade e concretize seu verdadeiro sonho. Pelo contrário, a formatação o coloca diante de suas dificuldades, que quase o faz desistir. Não somos todos iguais. Somos essencialmente diversos e únicos, como Luka.

Despertarmos para o poder libertador da arte na emergência dessa singularidade é trazer a importância da experiência estética na educação das crianças, fundamental, pois elas nos libertam também dos muitos condicionamentos, dos enquadramentos limitantes que não permitem a expressão da nossa verdadeira identidade. Neste sentido, a arte, a dança e a música são ferramentas poderosas de expressão das crianças, já que orquestram comportamentos únicos e grupais enquanto linguagem universal de múltiplos significados que é, em sua essência, intrinsicamente emocional e compartilhada.

A música é talvez a mais subjetiva e humana das artes, pois ela é essencialmente emoção e consciência do tempo: “Além de se desenvolver em um suposto tempo, a música é o próprio tempo, e como acontecimento temporal, algumas vezes marca, delimita, e dá o tempo; outras vezes, pode trazer diferentes ideias, ora de coexistência, ora de suspensão, ora de ausência do tempo” (Craveiro de Sá; 2003).

A música é também o resultado da incrível transformação de vibrações de ar em um sistema subjetivo complexo, que traduz estados de tensão, expectativa e expressão da nossa identidade corporal e da nossa imaginação.

Quando Luka compreende a natureza da vibração da música na expressão tátil das ondas dos aparelhos de áudio – para ele, silenciosas mas orgânicas –, consegue também expressar sua identidade em um jogo orgânico de ritmo, emoção, sombra e imagem. Conectar-se com a música significa para ele ser livre para efetivar o sonho de pertencimento e de equidade.

Essa experiência foi essencial para que Luka pudesse reconhecer e abrir-se por inteiro para compartilhar com o outro, reconhecer-se com seus pais orgulhosos, seus pares e educadores e, assim, fortalecer sua cognição como ser social. Nossas crianças são extremamente carentes de experiências estéticas que as libertem de condicionamentos que aprisionam os sentidos e que possibilitem transcender e ocupar o espaço da singularidade essencial para o reconhecimento individual e social de sermos livres e espontâneos para compartilhar com o outro a nossa verdade e nossas diferenças. 

Hoje, em neurociência, fala-se de ‘“embody cognition” (ou cognição corporificava) enfatizando a importância das sensações corporais, dos sentidos para a aprendizagem efetiva. Isso vai no contrafluxo desta era digital, em que o corpo é cada vez mais negligenciado, inerte, em detrimento das enxurrada de imagens e palavras e do tempo vertiginoso, rápido de máquina, que é tão diferente do tempo real, tempo com sentido e sentimentos, tempo simbólico, veículo de emoções e sentimentos compartilhados. 

A música organiza basicamente as emoções, que não são necessariamente emoções utilitárias, como o medo, a raiva, o nojo, mas emoções estéticas que, além do prazer ou desconforto, envolvem dimensões transcendentes de maravilhamento, paz, sublimidade, poder e nostalgia. Precisamos , tanto na  escola quanto na vida, de maneira geral, mais de arte do que de tecnologia. Devemos nos questionar em que medida a introdução precoce de tecnologia não cria alienados digitais, que estão, na verdade, treinando, reforçando redes neurais, já que o cérebro tem plasticidade, de como não reconhecer o outro, como treinar o imediatismo, como alienar o própria corpo da aprendizagem. Diante da máquina o corpo está amortecido, enquanto a mente é poluída por imagens potentes e intrusivas que bloqueiam a reflexão, o silêncio e o compartilhamento de emoções. 

Nesse sentido o poder transformador da arte pode ser um antídoto potente para essa alienação. A música, enquanto aliada da educação e da vida das crianças, também deixa a sua zona hedonista de conforto, enquanto díade ouvir prazer, para tornar-se um veículo de inclusão, transformador da nossa consciência, fundamental para nos mantermos empáticos e essencialmente humanos em nossa natureza complexa corporal, singular, social e transcendente.

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Olhares Olhares 2019

Era uma vez: “tjamparanjani“!

“Somos poetas, poetisas e artistas do futuro

Cantamos o A B C da nossa alegria, da nossa dor, da nossa saudade”.

O filme “Tjamparanjani” (Miko Meloni, 2016), parte da programação da Mostra Itinerante da Ciranda de Filmes, mostra o primeiro episódio do programa de rádio de mesmo nome. Nele, foram apresentadas as obras de todos os participantes do novo curso de uma oficina de arte, atividade que revela um pouco sobre as crianças, seus gostos e vontades, além da própria comunidade, incluindo suas famílias. Em pinturas, contos e poemas, conhecemos as histórias desses pequenos (grandes) artistas.

As crianças da Escola Primaria Completa de Natite, bairro na cidade de Pemba, ao norte de Moçambique, ficaram surpresas com o pedido do diretor, que passou em cada sala pedindo para que seus alunos estivessem na escola no sábado. “Não nos disse o porquê, só nos disse para vir”, diz a menina Ornilda Eugénio, uma das entrevistadas do “Tjamparanjani” . Ao chegar à escola no final de semana, viu as salas divididas em várias opções de oficinas ‒ quem quer poesia vai para um lado; quem quer pintura, para outro. Ornilda juntou-se com a turma da poesia e lá encontrou professores voluntários que lhe ofertaram materiais e liberdade para poetizar. A garota escolheu homenagear a mãe, que lhe ajudou com o primeiro poema. Depois do incentivo, “comecei a falar lindas palavras, escrever belos poemas”. Durante a entrevista, ela confessa não saber se recitará o poema da maneira como o escreveu, mas, ao fazê-lo para o entrevistador, um dos artistas voluntários da oficina, Ornilda fecha os olhos e seus versos declama com sinceridade e intensidade.

E não é o único momento de integração familiar que acaba sendo promovido com a iniciativa da oficina. Junto de Ornilda, Latifo e Cláudia são poetas mirins convidados a explorar e aprofundar o conhecimento na poesia com suas avós, Avó Helena e Avó Awagi. Sentam-se juntos e ouvem os contos. As avós também são artistas. A poesia, cantada em língua macua, “busca um toque do saber antigo”, como diz o realizador do encontro, numa troca entre gerações.

Com isso, os artistas locais conseguem despertar nas crianças não apenas a sensação de pertencimento, mas um realce e uma afirmação das suas identidades. Cláudia, ou Clau, como chama o entrevistador, conta que em uma das aulas a professora perguntou: “O que é poesia?”, “O que faz um poeta?”, “O que faz uma obra de arte?”. 

Para a primeira pergunta, a poeta responde “a poesia exprime sentimentos”. Para refletir sobre quem é o poeta e sua obra, o que conduz é pensar em quem é Cláudia fora da oficina. Para ela, uma qualquer. “Foi na oficina de arte que eu me senti feliz; quando estou fora, sou uma qualquer”.

O que ouvimos ‒ e vemos ‒ na obra são crianças que passam a poder contar sobre si mesmas e sobre o mundo por meio da arte. Não à tôa, “tjamparanjani”, em língua macua, equivale ao nosso “era uma vez”. Mas as histórias não são individualizadas. A família e os artistas se misturam nesse momento, ouvindo e acompanhando as crianças em suas experimentações. A cada “tjamparanjani!” dito na roda, todos devem responder “shampatteke!”, mantendo o ritmo do conto.

Depois dessas e de outras histórias, o programa Tjamparanjani encerra seu primeiro episódio ‒ e o filme ‒ com uma roda artística em um dos centros culturais de Pemba. O artista que guiou as entrevistas, apresentando os artistas e poetas do futuro em seu programa de rádio e para nós, espectadores do filme, convida as crianças a fazerem um poema de pronto. O tema: descrever em versos o seu bairro, para saber como veem o mundo. As crianças tentam pensar rápido, uma rascunha versos no caderno, outra se mostra nervosa. Mas conseguem dizer com sinceridade, mostrando todo o resultado do projeto: “É no meu mundo que eu aprendo”.

Assista “Tjamparanjani – Era Uma Vez” aqui ou na página oficial do diretor.