Categoria: Olhares 2015
A busca de Lila
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Inícios e tonalidades infantis
Sobre o “Na idade da Inocência”, Dir.: François Truffaut. Filme participante da Ciranda 2015.
Um clássico de cinema tem a força de sua atemporalidade, marca uma época, a história inteira do cinema, e a história de várias gerações. François Truffaut fez parte de uma geração de cineastas e críticos franceses que colaboraram para, entre outras coisas, a consolidação da ideia do cinema de autor.
De forma recorrente, Truffaut fez uma série de inserções biográficas em seus filmes, como alguém que mistura sua vida à das personagens, na intenção de articular sentidos para si e compartilhá-los com os demais, como o próprio exercício do viver. Em todas as entrevistas concebidas, ele sempre falou isso com muita naturalidade, identificando e abrindo sua história pessoal em meio as explanações sobre seus filmes e sobre o cinema de um modo geral.
O filme “Na idade da inocência” é uma dessas interações com uma forte declaração sobre a infância, seu desejo de autonomia e sua necessidade de ternura. Entre personagens criados, colhidos e descobertos em Thiers, uma pequeno município no Puy-de-Dôme, na França (onde foi gravado o filme), está a representação da força irreversível da vida e dos seus ritos de passagem, das descobertas e manifestos em favor da emancipação das situações dadas, o amadurecimento precoce, etc. Todas as fases da infância são representadas, desde a sua espera, a primeira infância, os anos posteriores até os 12 anos de idade.
A infância e a adolescência se identificam com a vida como iniciação. A infância como início, nascimento e alumbramento. O filme vai fazendo descobertas e nos apresentando as realidades da vida infantil, seus traços de absurdo e tudo aquilo que a infância dilata e torna único. Na relação entre ficção e realidade, há conexões com a lógica e a construção de significados infantis.
Truffaut escolheu trabalhar com situações mais flexíveis que permitissem com que as crianças – oriundas dessa cidade – interagissem com as intenções do filme e inserissem, sem artificialismos, sua participação ao filme. Ele optou por não fazer das crianças arautos de uma história criada por ele; as crianças improvisavam – eram elas mesmas, a todo momento. O roteiro indicava apontamentos e objetivos das cenas e, muitas vezes, as falas dos adultos eram como “sementes” da espontaneidade infantil. Assim, nos aproximamos de um mosaico de tonalidades de ser criança, cada uma delas, ao seu modo, se encontra à diversidade do ambiente escolar.
Os adultos não criam oposição às crianças. Na maioria das vezes, eles são colocados como fracos, algumas vezes como inválidos, outras vezes como prejudicados por alguma situação da vida. Eles não são colocados como pessoas ruins. Por sua vez, o professor é aquele que consegue fazer a mediação com as crianças. Mais do que isso, é aquele que quer estar perto delas.
A cidade se sensibiliza com a história de abandono e maus-tratos do personagem Julien. As crianças estão às vésperas das férias de verão e da finalização daquele ano escolar, uma passagem se enuncia. O professor faz dela um ritual para o crescimento e o amadurecimento, um conselho. Uma relação gente-com-gente, em favor dos direitos da infância, da sua produção de sentidos, significados da vida e de sua felicidade. Ele convida as crianças a acessar a vida, identificar as formas de poder do adulto sobre a infância, identificar o poder que perpassa suas subjetividades infantis na forma de vida e de direitos que devem ser permanentemente reivindicados. O educador como iluminador de potências.
O professor estimula as crianças como seres políticos que intervêm, eles próprios, em suas realidades, munidas de seus direitos e da sua vibração de vida. Uma ode à infância como estado de início e emancipação.
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Dentro de nossa estrutura social, a família sempre foi considerada uma das mais fortes instituições devido a sua representatividade de poder e influência. Por outro lado, em uma perspectiva psicológica, a família tem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, baseado em seu apoio à construção de fortes estruturas emocionais e afetivas que irão determinar o desenvolvimento individual e social da criança por toda sua vida. Articulando a tradição institucional da família, a sua importância e a diversidade de realidades da vida contemporânea, temos várias condições e composições familiares que nos distanciam de modelos e normatizações e, por isso, nos indica a necessidade de olhar e estudar com atenção e sensibilidade.
A primeira Roda de Conversa da Ciranda 2015 reuniu Susan Andrews, Rosely Sayão e Ada Pellegrini para discutir, cada uma a seu modo, diversas dimensões familiares, sua relação com a espiritualidade, com a neurociência e a psicologia.
A família, seja qual composição tiver, oferece a criação das primeiras relações, vínculos e conexões fortes entre as pessoas. Essas conexões têm a ver com as trocas que elas realizam, com a raiz de seu desenvolvimento emocional e da ideia de si mesmo. Essas trocas são conhecidas como “trocas positivas”, que são aqueles atos entre um casal, a família, os filhos, os amigos; pequenas ou grandes comunidades nas quais estamos inseridos. Esse intercâmbio alimenta relações saudáveis que afastam o que conhecemos como ameaças ao desenvolvimento de alguém.
Uma ação negativa (maltrato físico, verbal, abusos repetitivos, etc.) tem graves consequências no desenvolvimento de uma pessoa. Não é uma tarefa fácil reverter os danos causados por esses tipos de feitos, embora tenham ações positivas que ajudam a restituir o bem-estar psicológico e um ambiente agradável.
E as crianças que vivem em situações familiares que não proporcionam essas trocas positivas? Do ponto de vista do desenvolvimento psicológico e social, como poderíamos considerar as outras situações, pessoas e influências que proporcionam o desenvolvimento infantil e o intercâmbio positivo? Vários filmes da programação da Ciranda foram citados, durante a Roda de conversa, enriquecendo essas reflexões. Tiveram destaque os longas; “Sam” de Elena Hazanov, e “A Indomável Sonhadora” de Benh Zeitlin, e os curtas; “A Menina Espantalho” de Cássio Pereira dos Santos, “A Panelinha de Anatole” de Eric Montchaud e “A Conquista do Espaço” de Chico Deniz.
Há alguns tipos de situações em que a infância é tratada como um estado de invisibilidade. A família proporciona essa visibilidade, pertencimento e afeto tão necessários para vida. O trabalho dedicado às crianças tem também um papel importante para acabar com essa invisibilidade; os adultos têm uma importância fundamental na visibilidade das crianças.
É importante termos em conta o que significa a “superação dos limites” impostos por uma situação. Fundamentalmente, a família tem uma importância muito significativa, seja nas trocas positivas ou nas negativas; seja no desenvolvimento afetuoso e sereno, seja na necessidade de superação de uma situação dada. Adiante, quando a criança cresce, a família é superada para que ela possa assumir a sua própria vida.
Roda de conversa: Famílias (2015)
Com Susan Andrews, Rosely Sayão e Ada Pellegrini
Moderação: Patrícia Durães
Texto: Vanessa Fort
Fotos: Aline Arruda/Ciranda de filmes
Na natureza da infância
Entre a natureza lá fora e a natureza da infância, há o desenvolvimento dos sentidos, da sensibilidade, dos significados e da relação com o mundo, com a vida e com as subjetividades infantis. A Roda de conversa Criança na natureza construiu conexões profundas entre todas essas dimensões, proporcionando um forte e emocionante encontro entre o Gandhy Piorski, Rita Mendonça e o Dr. Ricardo Ghelman.
Em um mundo organizado pelos adultos, com toda sua funcionalidade e estrutura social, existe a necessidade de criar espaços que proporcionem o desenvolvimento da potência da natureza infantil; espaços que proporcionem o desenvolvimento desses agentes da natureza humana em sua potência, as crianças.
Quais são os diferentes olhares sobre a natureza? Por que é importante o contato com a natureza? Por que esse contato é fundamental para o desenvolvimento das crianças? O quê nos faz humanos?
Hoje em dia, o nosso contexto se tornou urbanizado, industrializado e distante da natureza. Como podemos nos aproximar novamente dela e de nossa necessidade de conexão? “A humanidade tem que encontrar sua plenitude no jogo e no contato com a natureza”, disse Rita Mendonça.
Os três convidados se aprofundaram em vários filmes como “Mutum”, “Feral” e, especialmente, o quase unânime “Indomável Sonhadora”, filme preenchido de representações mitológicas e dimensões sensíveis e profundas. Poderíamos dizer que Hushpuppy, a pequena protagonista do filme, foi também protagonista da conversa. Gandhy e Ricardo fizeram juntos, cada um a seu modo, uma análise do filme. Cumprindo um papel de Criança Divina, a pequena Hushpuppy percorre seu caminho de interiorização rodeado de uma natureza adversa que apresenta seus recursos para construção de sua autonomia e sobrevivência.
A nossa idealização de vida e dos recursos para o desenvolvimento infantil pode estar nos mantendo longe da diversidade das infâncias? Não seria a diversidade que nos mantêm nas realidades que são muitas? Como criar uma conexão mais profunda com isso para ficarmos atentos a essa possível idealização que normatiza o entendimento dessas distintas realidades?
A natureza somos nós e, portanto, como ela tem história, tem diversidade. No estudo das mitologias são mitos e as histórias que “não são apenas cantadas, como uma espécie de música, mas vividas. Para um povo, são suporte, sua forma de expressão, de pensamento e de vida” (Criança Divina – uma introdução à essência da mitologia). As histórias que expressam algo mais universal, algo da substância do mundo do ser humano. Por isso que essas Roda de Conversa acolhida no universo da Ciranda, repleto de personagens e suas histórias, pareceu fazer ainda mais sentido.
Roda de conversa: Criança na natureza (2015)
Com Rita Mendonça, Gandhy Piorski e Dr. Ricardo Ghelman
Moderação: Fernanda Heinz
Texto: Vanessa Fort
Fotos: Aline Arruda/Ciranda de Filmes
Cordilheira de Amora II
“A Cordilheira da Amora II” é um filme que começa quando acaba. Um filme que desperta nosso poder criativo para novas realidades. A Ciranda vai chegando ao fim com a intenção de inspirá-las.
Da Celebração do fim que se inicia, convidamos Jamille Fortunato (diretora), Lia Matos (produtora) e Alexandre Basso (imagens) para compartilhar o processo do filme, suas intensidades, insights e afetos. O filme é um documentário que apresenta o quintal de Cariane, uma indiazinha Guarani kaiowá da Aldeia Amambai, em Mato Grosso do Sul.
Em uma tarde no quintal
por Jamille, Lia e Alexandre
O encontro com a Cariane aconteceu durante a execução do projeto Memórias do Futuro, uma ação produzida pelo Espaço Imaginário, que tem como objetivo pesquisar a Cultura da Infância do Brasil através de um processo de sensibilização do olhar investigativo e criativo de jovens, educadores e crianças. Em ações que se propagam em redes virtuais e presenciais, o Espaço estimula a aproximação de gerações e a troca de conhecimentos e práticas relacionados ao brincar.
Jovens de diferentes grupos culturais do Mato Grosso do Sul: indígenas, quilombolas, ribeirinhos e da cidade participaram das duas oficinas: a de sensibilização para a importância do Brincar e a de técnicas de produção audiovisual. O propósito da segunda era estimular os jovens para uma investigação e documentação de suas infâncias e as infâncias de suas comunidades.
Entre os jovens estava a Francielli Martines, irmã da Cariane, uma das participantes do projeto, integrante do JIGA – Juventude Indigena Guarani em Ação, grupo muito ativo na Aldeia Amambai em MS. Eles defendem e compartilham a memória e Cultura local com um acervo audiovisual maravilhoso.
Fazia parte do processo de formação dos jovens, o acompanhamento da pesquisa dos integrantes do projeto em cada comunidade. Foi justamente durante este período de acompanhamento da pesquisa que conhecemos a Cariane, em um dia em que fomos convidados pela Francielli para conhecer a sua casa e família.
Logo após o almoço a Jamille foi dar uma caminhada nos arredores da casa e encontrou a Cariane. Pouco depois ela nos chamou e disse: “venham ver aqui uma coisa!” Fomos os 3 com outra câmera. Para nosso encanto, o filme aconteceu assim, como as crianças são: de um jeito muito espontâneo. Aos poucos ela foi nos mostrando o universo que havia ali no seu quintal, nos contando suas histórias e sonhos, inclusive de um filme invisível.
Dentro desse processo, uma de nossas tentativas foi capturar para as telas as brincadeiras do imaginário de uma criança. “Cordilheira de Amora II” foi também o resultado dessa busca, regada pelos olhares delicados e pela nossa parceria. Apesar de ter sido um documentário espontâneo, sem planejamento prévio, filmado em menos de uma hora, usando apenas celular e handcam, ele só foi possível porque foi um trabalho em equipe que já vinha sendo realizado. Tivemos todo o cuidado e respeito ao entrar nas comunidades, sempre pedindo licença.
Naquela tarde de quintal, descobrimos muito mais do que já havíamos apreendido até então. E reafirmamos a nossa certeza – e consciência – sobre a capacidade que cada criança tem de transcender e transformar o que já está posto.
Questões de território e transcendência de fronteiras
Cariane nos mostra uma realidade de maneira muito sutil: um Brasil riquíssimo e abandonado, com interferências e valores sócio-culturais diversos que chegam às crianças de forma descuidada, muitas vezes descontextualizadas, questões de territórios – suas propriedades, apropriações e novas elaborações.
Mesmo assim a criança alcança e transcende com seu potencial incrível de criação e transformação. Ela e seus amigos nos dizem que, sim, é possível ser bonito, que é possível ter mais respeito, que é preciso ouvir, que é possível ter uma casa, cuidar, passear, transformar a escola em um lugar menos chato, que o lixo não é lixo e pode ser transformado. Cariane deixa acontecer cordilheiras na planície do centro-oeste brasileiro com seus sonhos altos e pézinhos no chão. Assim faz a vida menos seca e mais doce como as amoras! Ela nos diz que é possível transformar!
E, assim, acreditamos que todas as crianças deste mundão carregam cordilheiras de amoras nos seus sonhos e corações. Acreditamos também que o grande potencial do filme, o grande potencial que o cinema é de sensibilizar, educar à transcendência com novas possibilidades de transformação para situações difíceis que estão colocadas no mundo e que parecem impossíveis de serem solucionadas.
E, de forma contrária, a criação, simplicidade e beleza nos dizem que, sim, é possível!
Poéticas e poesias da infância
Há algum tempo o conceito de protagonismo infantil inspirou-se em uma visão adultocêntrica do mundo e, logo, das infâncias. A criança era um projeto do futuro, um preparação para uma ideia precisa das coisas que, por ser precisa, se afasta de uma realidade complexa de subjetividades e composições culturais e sociais. Há quem segue visitando esta visão de mundo. Sobre outra visão, mais poética, baseada numa ética de alteridade das infâncias, várias e únicas, que a mesa de Protagonismo Infantil se inspirou.
Com a presença do educador e poeta Severino Antônio e da educadora Lucilene Silva, a Roda de conversa do terceiro dia da Ciranda de Filmes caminhou no universo poético da infância, aquele que é possível a partir de uma participação singular das crianças e da sua criação de significados e poéticas; as narrativas das vidas infantis.
Um homem representa uma criança e que, desde seu nascimento, é protagonista de sua natureza, sua história e seu destino. O que significa perder o sentido da vida? O que significa ser uma criança protagonista?
É quando a criança cria vida.
É quando a criança faz presente o ausente.
É quando o menino adota uma atitude filosófica e pergunta sobre o mundo que o rodeia, sobre experiências e sobre coisas pouco tangiveis e espirituais.
É quando a infância se faz poesia.
Antes tarde: as poesias são várias, nem sempre suaves, quase sempre desobedientes para garantia de sua autenticidade; emancipatórias para garantia dos seus afetos; livres pela sua natureza genuína, que se conecta consigo mesmo, com o mundo e cria significados a todo momento. Como podemos apoiar esses movimentos infantis livres e autônomos? Como podemos potencializar essas criações, esse protagonismo?
A infância é um estado nascente da linguagem, um estado poético em toda sua potência. A criança é sujeito do texto de sua existência. A criança é pensadora, indagadora, que gera perguntas e constroe metáforas. O adulto precisa reaprender a infância e isso significa escutar as crianças, aquelas que o perguntam e aquelas que dizem também. O adulto deve se conectar à fantasia das crianças. Como disse Severino: “É importante que o mundo recomeça todas as vezes.” Escutar as crianças, “fará delas pessoas autônomas e com liberdade de expressão. Uma criança autônoma é emancipação”, disse Lucilene Silva.
O que faz o humano se converter em humano? “O pensamento…”, disse Severino, “…o mito poético de que tudo se transforma em tudo.”
Roda de conversa: Protagonismo Infantil (2015)
Com Severino Antônio e Lucilene Silva
Moderação: Ana Claudia Leite
Texto: Vanessa Fort
Fotos: Aline Arruda/Ciranda de Filme
Postura e movimento, estruturas que caminham de mãos dadas!
Adquirir referência sobre a organização postural certamente ampliam o seu bem estar corporal, o controle da postura favorecem os nossos deslocamentos e a qualidade do movimento. Ficar muitas horas sentado sem essas referencias, achatam seu corpo limitando os seus gestos!
De uma forma lúdica, nos entreteremos durante 1 hora, observando situações básicas para o controle do posicionamento do seu corpo, executaremos alguns exercícios estimulantes e revigorantes para o seu cotidiano!
Assistiremos um breve documentário sobre as etapas do desenvolvimento motor, no bebê, na criança, na adolescência, idade adulta e na plenitude do idoso.
Venha se divertir e adquirir algum conhecimento com Ivaldo Bertazzo.