“Mário e a Missão”, filme de Luiz Adriano Daminello, é um documentário repleto de material de arquivo e entrevistas. E música, dança e falas de mestres populares em seus territórios: jongo, coco, cavalo marinho, tambor de crioula, batuque. E quem comanda essa pesquisa pelas danças folclóricas e cultura popular é Mario de Andrade. Através da curiosidade e vasta pesquisa feita pelo escritor modernista, décadas atrás, chegamos na essência de muitas dessas manifestações.
O documentário reconta, por exemplo, a lendária viagem feita por Andrade pelo rio Amazonas, indo de Belém a Iquitos, no Peru, além de sua viagem etnográfica pelo Nordeste. Há sons e imagens captadas nos anos 20 e 30, por exemplo, e há conversas com quem vive e lida com cultura popular na ponta, no fazer – feitas recentemente.
Logo depois da sessão, no Cinesesc, aconteceu uma conversa aberta ao público. E, ao lado do diretor, ninguém melhor que o músico, compositor e bailarino Antonio Nóbrega, artista plural que une, como poucos, a tradição, o popular e o erudito. O pernambucano começa sua fala contextualizando a origem da cultura popular: a mistura, as referências múltiplas, as memórias, narrativas e vivências do povo indígena negro e português. A formação do Brasil em suas diversas camadas. “É esse o caldo étnico cultural que, ao longo dos anos, vai criar esse majestoso universo, que acabamos de ver”.
Infelizmente, para ele “o Brasil não legitimou a sua cultura popular” e provoca sobre a sua importância, já que ela não está impregnada nos nossos hábitos culturais: serviria para alguma coisa que não a pesquisa? Para ele, há duas linhas culturais que correm quase que paralelamente e, em poucos momentos, se encontram. Cita Heitor Villa-Lobos e Guimarães Rosa como referências desses pontos de intersecção.
Daminello completa que o “para turista ver” também acabou por empobrecer diversas manifestações, inclusive no tempo de suas execuções. A partir daí, os governos bancam também com esse propósito: pouco tempo e um pouco de tudo, o que interfere radicalmente nas essências daquelas danças.
Terminando a conversa, Nóbrega se apresentou rapidamente ao público, com sua voz e violão.
Texto: Regina Cintra