Olhares

Visibilidade, afetos e desenvolvimento

25/08/2021

Dentro de nossa estrutura social, a família sempre foi considerada uma das mais fortes instituições devido a sua representatividade de poder e influência. Por outro lado, em uma perspectiva psicológica, a família tem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, baseado em seu apoio à construção de fortes estruturas emocionais e afetivas que irão determinar o desenvolvimento individual e social da criança por toda sua vida. Articulando a tradição institucional da família, a sua importância e a diversidade de realidades da vida contemporânea, temos várias condições e composições familiares que nos distanciam de modelos e normatizações e, por isso, nos indica a necessidade de olhar e estudar com atenção e sensibilidade.
A primeira Roda de Conversa da Ciranda 2015 reuniu Susan Andrews, Rosely Sayão e Ada Pellegrini para discutir, cada uma a seu modo, diversas dimensões familiares, sua relação com a espiritualidade, com a neurociência e a psicologia. A família, seja qual composição tiver, oferece a criação das primeiras relações, vínculos e conexões fortes entre as pessoas. Essas conexões têm a ver com as trocas que elas realizam, com a raiz de seu desenvolvimento emocional e da ideia de si mesmo. Essas trocas são conhecidas como “trocas positivas”, que são aqueles atos entre um casal, a família, os filhos, os amigos; pequenas ou grandes comunidades nas quais estamos inseridos. Esse intercâmbio alimenta relações saudáveis que afastam o que conhecemos como ameaças ao desenvolvimento de alguém.
Uma ação negativa (maltrato físico, verbal, abusos repetitivos, etc.) tem graves consequências no desenvolvimento de uma pessoa. Não é uma tarefa fácil reverter os danos causados por esses tipos de feitos, embora tenham ações positivas que ajudam a restituir o bem-estar psicológico e um ambiente agradável.
E as crianças que vivem em situações familiares que não proporcionam essas trocas positivas? Do ponto de vista do desenvolvimento psicológico e social, como poderíamos considerar as outras situações, pessoas e influências que proporcionam o desenvolvimento infantil e o intercâmbio positivo? Vários filmes da programação da Ciranda foram citados, durante a Roda de conversa, enriquecendo essas reflexões. Tiveram destaque os longas; “Sam”de Elena Hazanov, e “A Indomável Sonhadora” de Benh Zeitlin, e os curtas; “A Menina Espantalho” de Cássio Pereira dos Santos, “A Panelinha de Anatole” de Eric Montchaud e “A Conquista do Espaço”de Chico Deniz.

Há alguns tipos de situações em que a infância é tratada como um estado de invisibilidade. A família proporciona essa visibilidade, pertencimento e afeto tão necessários para vida. O trabalho dedicado às crianças tem também um papel importante para acabar com essa invisibilidade; os adultos têm uma importância fundamental na visibilidade das crianças.
É importante termos em conta o que significa a “superação dos limites” impostos por uma situação. Fundamentalmente, a família tem uma importância muito significativa, seja nas trocas positivas ou nas negativas; seja no desenvolvimento afetuoso e sereno, seja na necessidade de superação de uma situação dada. Adiante, quando a criança cresce, a família é superada para que ela possa assumir a sua própria vida. 

Roda de conversa: Famílias (2015)

Com Susan Andrews, Rosely Sayão e Ada Pellegrini

Moderação: Patrícia Durães

Texto: Vanessa Fort

Fotos: Aline Arruda/Ciranda de filmes