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Meu primeiro cinema: uma conversa com Alemberg Quindins

Por Mayara Penina

Você se lembra da primeira vez que foi ao cinema? Alemberg Quindins, fundador da Fundação Cultural da Casa Grande, contou sua relação com a arte desde criança.

“Meu nome é Alemberg Quindins, eu nasci no Cariri, uma região entre Pernambuco, Paraíba, Piauí e o Ceará, ao sul da Chapada do Araripe. Um território que chamamos de Cariri porque existia um povo chamado Cariri”, assim se apresenta Francisco Alemberg Quindins, produtor cultural, multiartista e fundador da Fundação Casa Grande – Memorial do Homem do Kariri. Nesta conversa com a Ciranda Cirandinha de Filmes, ele compartilhou sua história com a sétima arte, como a primeira vez em que viu um filme nas telonas e como criou seu próprio cinema em sua cidade, aos nove anos. 


Foi com uma vizinha em Nova Olinda (CE), contadora de lendas e histórias, que Alemberg aprendeu a imaginar. “Ela era descendente de Cariri e me levava pra casa dela, ou melhor, eu ia até a casa dela porque eu gostava de ir lá. Ela pegava uma estatueta de madeira e começava a contar a história do povo Cariri”, relembra. Ali, Alemberg tinha certeza que conseguia ver o que a vizinha contava. Para ele, o cinema começou aí: por meio de “uma boca falando e uma língua imaginando”. Desde aquela época, o menino Alemberg Quindins aprendeu a sonhar.

De Nova Olinda, se mudou com o pai e o irmão em busca de outro chão e foi parar em Miranorte (TO), entre o rio Tocantins e o rio Araguaia. No novo endereço, a família conheceu o Cine Bandeirante, onde iam aos fins de semana. Ir ao cinema era um evento importante, que exigia uma preparação: “Meu pai botava música na vitrola enquanto a gente ficava tomando banho. A trilha ia tocando enquanto as crianças da cidade iam tomar banho”.

Foi no Cine Bandeirantes, em 1974, a primeira vez que Alemberg passou pela experiência mágica de estar numa sala escura cheia de imaginação. E tudo parecia realmente mágico: “o dinheiro do pai pra gente comprar um suspiro, que era docinho e que derretia na boca, a banquinha que a família botava pra vender bombom, a fila pra entrar com ingresso, uma parede onde tinha uns cartazes, aqueles posterzinhos promocionais mostrando cenas do filme que você via antecipadamente, as cortinas vermelhas com as franjas bordadas, as luzes ao lado e duas placas vermelhas assim dizendo ‘Não Fume’ e ‘Silêncio’. Aquilo era o cinema!”.

“O primeiro filme que assisti foi em 3D”

Naquele dia, o filme exibido no Cine Bandeirantes, visto por Alemberg foi “Sansão e Dalila” com Victor Mature, Angela Lansbury e Hedy Lamarr, um clássico do cinema hollywoodiano. “Quando abriu a cortina e começou aquela imagem rodando, eu me transportei para dentro do cinema. O primeiro filme que eu assisti foi em 3D. Por que eu digo que foi em 3D? Porque quando muito mais pra frente apareceu o cinema 3D, eu constatei isso e digo: foi isso que eu vi! E nunca mais parei de sonhar!”.

Desde aquele dia, o encantamento não acabou, nem a vontade do Alemberg Quindins de descobrir o audiovisual mais e mais. Depois de um tempo, ele passou a ver os filmes de um jeito diferente. Enquanto os meninos olhavam pra tela, Alemberg via de costas. Ele queria entender como funcionava aquela mágica e de onde saía o jato de cor. Passou a investigar com os olhos de análise que só uma criança tem. “Eu comecei a observar que era um jato de luz que saía forte, que passava por uma tirinha de fotografia. No jato de luz, eu via aqueles fragmentos de poeira. Era como se fossem aqueles pontos de poeira que levassem a imagem daquela fita para tela. E também tinha o som. Ele ficava por de trás de uma cortina, a cortina não fechava toda porque fechava só pra descobrir a tela. Quando abriu aquilo ali, pra mim abriu o mágico, o portal do encantado. Eu disse pra mim mesmo: “Eu vou fazer cinema!”.

Meu próprio cinema, o cineminha do Beg

Foi ainda com nove anos que começaram os estudos autônomos de Alemberg em busca do sonho de ter o próprio cinema. Em casa, foram realizados vários testes com materiais diversos. Plástico, durex, desenhos de cenas em pincel, lanterna, e ainda não estava dando certo. Até que um dia, à noite, com o lampião aceso, percebeu sua imagem refletida na parede de frente para o objeto. “Eu me vi bem grande como se fosse a minha grande sombra. E aí eu vi que, quando eu mexia no lampião, a minha imagem se mexia sem mexer. Quando eu me aproximava da parede, eu diminuía. Quando eu me distanciava da parede e me aproximava do lampião, eu ficava maior. Aí eu disse: “É o cinema!”.

Foi numa caixa de madeira, com personagens, falas e trilha sonora criada por ele,  que nasceu o Cineminha do Beg. Muitos clássicos foram exibidos lá, como “Sansão e Dalila”, “O Ouro de Mackenna” e “O Dólar Furado”. As crianças vibravam! “Eu fico pensando hoje como era que eu prendia a meninada durante uma sessão de cinema todo”, relembra.

“Eu sempre quis ter um quarto de brinquedos quando era criança, esse quarto de brinquedos é a ‘Casa Grande’. Eu criei uma instituição em que as crianças são  gerentes, são diretores, é toda gerida por crianças. Isso foi o cinema que me deu. Essa é minha história”.


Clique aqui para conhecer melhor a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri. Veja também este papo em que Alemberg Quindins conta mais histórias do seu cineminha

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