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18/05/2017

Rosa: para transcender a vida e a morte

O cinza reina, o inverno congelante parece eternizar a escuridão, a guerra, o choro, a espera. O início declara a morte. O que o fim vai declarar? Assim começa uma busca à sombra de uma guerra.

“Rauf”, longa-metragem ficcional dirigido por Barış Kaya e Soner Caner, traz a vida dos curdos, um povo que luta por suas autonomia e independências política e territorial há muitos e muitos anos. Eles vivem em pequenas vilas ao redor do Irã, do Iraque, da Síria e da Turquia. Rauf, que vive num desses vilarejos turcos, é menino curdo, uma minoria frágil que sofre grande perseguição, em meio a uma briga invernal entre grandes, pelo petróleo.

Ao anoitecer, os habitantes da sua vila se escondem em suas casas escuras, apagadas, para se protegerem de ataques. O opressor, como uma raposa, não pode ser visto. Ao som de bombas, Rauf é acolhido pelo carinho maternal. Ele dorme e acorda ligeiramente ao som delicado do choro de sua mãe, que sofre por seu filho mais velho, que foi para as montanhas. Dia após dia, uma senhora silenciosa, sua avó, contempla as montanhas, em uma espera sem fim. A esperança e o sonhar sintetizados em uma imagem de loucura.

Uma figura folclórica do lugar, um veterano curdo de uma guerra estrangeira, vai até a escola para contar suas histórias, lembrar como ele perdeu a visão. Rauf é interrompido na escuta e injustamente expulso da classe. Os adultos escondem, querem ser mestres, se esforçam para não explicar, insistem que as crianças não percebem, não entendem, não sentem.

Quando Rauf é expulso da escola, seu pai o leva para o carpinteiro para que possa aprender o ofício do amigo. A ocupação principal do carpinteiro é fazer caixões para os mortos da causa que todos sabem. Na oficina, Rauf conhece Zara, filha do artesão, uma moça dez anos mais velha que ele, pela qual nutre um amor platônico. Em um esforço de se aproximar e encantar a jovem, Rauf se coloca a tarefa de procurar o rosa, cor preferida da enamorada, enquanto aprende o ofício de enterrar os mortos de seu povo.

Onde encontrar a luz e a cor para a intimidade das casas escuras? Como transcender a morte, o cinza, o inverno congelante, a guerra, o choro? O silêncio da espera se rompe, e a aparente loucura se apresenta como ingresso para a escalada primaveril até o rosa. Mesmo onde aparentemente não há, onde ninguém conhece a cor, Rauf não desiste. Depois de várias mortes, ele amadurece e colore de sentido o viver, o crescer e o morrer que habita.

Texto: Vanessa Fort