o-

lha-

res

09/05/2016

Poéticas e poesias da infância

Há algum tempo o conceito de protagonismo infantil inspirou-se em uma visão adultocêntrica do mundo e, logo, das infâncias. A criança era um projeto do futuro, um preparação para uma ideia precisa das coisas que, por ser precisa, se afasta de uma realidade complexa de subjetividades e composições culturais e sociais. Há quem segue visitando esta visão de mundo. Sobre outra visão, mais poética, baseada numa ética de alteridade das infâncias, várias e únicas, que a mesa de Protagonismo Infantil se inspirou.

Com a presença do educador e poeta Severino Antônio e da educadora Lucilene Silva, a Roda de conversa do terceiro dia da Ciranda de Filmes caminhou no universo poético da infância, aquele que é possível a partir de uma participação singular das crianças e da sua criação de significados e poéticas; as narrativas das vidas infantis. Um homem representa uma criança e que, desde seu nascimento, é protagonista de sua natureza, sua história e seu destino.

O que significa perder o sentido da vida? O que significa ser uma criança protagonista?
É quando a criança cria vida.
É quando a criança faz presente o ausente.
É quando o menino adota uma atitude filosófica e pergunta sobre o mundo que o rodeia, sobre experiências e sobre coisas pouco tangiveis e espirituais.
É quando a infância se faz poesia.

Antes tarde: as poesias são várias, nem sempre suaves, quase sempre desobedientes para garantia de sua autenticidade; emancipatórias para garantia dos seus afetos; livres pela sua natureza genuína, que se conecta consigo mesmo, com o mundo e cria significados a todo momento. Como podemos apoiar esses movimentos infantis livres e autônomos? Como podemos potencializar essas criações, esse protagonismo?
A infância é um estado nascente da linguagem, um estado poético em toda sua potência. A criança é sujeito do texto de sua existência. A criança é pensadora, indagadora, que gera perguntas e constroi metáforas. O adulto precisa reaprender a infância e isso significa escutar as crianças, aquelas que o perguntam e aquelas que dizem também. O adulto deve se conectar à fantasia das crianças.  Como disse Severino: “É importante que o mundo recomeça todas as vezes.” Escutar as crianças, “fará delas pessoas autônomas e com liberdade de expressão. Uma criança autônoma é emancipação”, disse Lucilene Silva.
O que faz o humano se converter em humano? “O pensamento…”, disse Severino, “…o mito poético de que tudo se transforma em tudo.”

Roda de conversa: Protagonismo Infantil (2015)
Com Severino Antônio e Lucilene Silva
Moderação: Ana Claudia Leite
Texto: Vanessa Fort
Fotos: Aline Arruda/Ciranda de Filme