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12/04/2016

Os mestres do intangível

“A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam”, disse o filósofo Mikhail Bakhtin.

As linguagens são constituídas pelos diálogos e afetos. Tudo se constitui linguagem e sentido em nosso estar no mundo. A linguagem é mestra do existir, do mediar-se, do conviver. Mediar nossas emoções, conectar o sensível, o intangível, o outro. O que a linguagem não comunica, o afeto acolhe e manifesta. Por outras vezes, desconsideramos os conflitos em favor de uma inquestionável poesia. Mas e os nossos terrores, tensões, medos e frustrações? A poesia, muitas vezes, está no olhar de quem observa. O olhar do outro nos ajuda a enxergar outras cores e texturas, criar diálogos e coexistir. A arte e suas linguagens permitem conexões com toda a complexidade do ser.

O que é beleza? Há beleza na complexidade de nossas contradições? Francis Bacon expressou as intempéries da condição do humano, com cores negras e emoções aprisionadas. Basquiat dedicou-se às texturas, à demolição das tradições e à vida nas grandes cidades. Sivuca, com todo o seu coração popular, mesclou-se com maestria ao erudito, levando a sanfona aos grandes concertos, criando um outro idioma. A dança e o teatro conseguem transitar por onde não conseguimos declarar.  E o que é beleza nessa grande diversidade de linguagens e manifestações? Como ela pode estar a favor das manifestações e descobertas infantis, para que as crianças possam poetizar, sim, sobre seus pensamentos e ideias doces, mas também manifestar e investigar seus temores e espantos? Como as linguagens podem estar disponíveis às crianças e à todas as formas de comunicação infantil na construção de memórias afetivas que apoiem a criação de fortalezas íntimas?

A Ciranda de Filmes 2016 dedica-se a fazer essas reflexões sobre as artes e as linguagens que ajudam a tecer, conhecer e desmistificar a vida e potencializá-la. O que a arte nos ensina? Como ela nos inspira? Para levar a maestria da arte para o centro do debate, discutindo seu papel transformador, entram nessa prosa artistas-educadores da música, da dança e das artes visuais. A Roda de Conversa “Mestre do Intangível” contará com a presença de Claudio Feijó, Teca Alencar de Brito, Georgia Lengos e a mediação de Gabriela Romeu.

Após 10 anos de discussões, as linguagens artísticas deverão estar presentes no currículo escolar. O projeto de lei 337/06 foi aprovado no Senado e agora segue para sanção. Nada como esse momento oportuno para refletirmos e conversarmos sobre as linguagens artísticas que têm a ver, mais do que com uma questão disciplinar, com a criação de sentidos de vida a partir dos diálogos do sensível.

Texto: Vanessa Fort