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11/04/2015
Eu cirando, tu cirandas, nós cirandamos…
por Gabriela Romeu
Foram três dias cirandando, descobrindo-se e encontrando-se em imagens da infância, rompendo os muros da escola, impulsionando uma onda transformadora, urgente. A Ciranda de Filmes, mostra que reuniu documentários, ficções e animações, rodas de conversa e a exposição Território do Brincar, inaugurou um espaço inédito para se pensar a infância e a educação a partir do audiovisual e com todos os desafios da contemporaneidade.
Ao longo do encontro, entre as conversas nas rodas ou nas “esquinas”, entre um filme e outro da programação, os participantes afirmaram a importância de reunir em uma só ciranda diversos personagens e forças em prol da infância e de uma educação pautada pelo sensível. Lydia Hortélio, que teve uma participação especial com sua palestra brincante, foi certeira: “É preciso saber menino”.
Os meninos estavam lá, na tela grande. Na programação, com 35 filmes, entre curtas e longas-metragens, vivemos uma grande aventura do humano. Nascemos com “Birth Story”, demos os primeiros passos em “Bebês”. Crescemos e brincamos muito com os documentários do Território do Brincar. Adentramos a intimidade das casinhas das crianças em “Ô, de Casa”. Vivemos um verdadeiro jardim da infância em filmes como “C’est pas du Jeu” e “Sementes do Nosso Quintal”. Seguimos numa grande jornada, heroica e solitária, necessária para romper mundos interiores em longas como “Matei Copil Miner”. “Adolescemos” e passamos a questionar um sistema educacional cheio de incoerências em “A Educação Proibida”.
Mas não só. Esse foi apenas um jeito de navegar pelas imagens inspiradoras da Ciranda de Filmes. Cada participante construiu sua própria narrativa.
Nas rodas de conversas, especialistas e produtores dialogaram sobre três eixos temáticos – infância e nascimento, espaços de aprendizagem e movimentos de transformação. Diferentes mestres do pensar a infância entraram na mesma roda, cirandaram junto. Paralelamente à exibição dos filmes da programação, as conversas foram tecendo outras imagens, compondo diálogos entre cinema, brincar e viver, literatura, educação, poesia e infância.
Não estavam ali apenas educadores, pediatras, antropólogos, artistas plásticos, cineastas e pesquisadores do universo da criança. Conectados com sua essência de infância, constantemente evocada no encontro, estavam também os meninos e as meninas que foram (e que são). As memórias de infância vieram à tona na cantiga de ninar uruguaia que embalou Adriana Friedmann quando menina, no mar-brinquedo de Maria Amélia Pereira, que teve a praia e a natureza como um verdadeiro espaço de aprendizagem, e no jardim da infância (re)vivido por Fernanda Heinz Figueiredo, entre outras lembranças.
Com os palestrantes-brincantes-cirandeiros, a plateia criou figuras com barbantes, participou de um concerto de pássaros desabrochados, cantou brincos. Brincou. E se a ciranda de Antônio Nóbrega abriu o festival, Tião Carvalho fechou a roda com mais brincadeiras. Assim, o espírito lúdico ali tão evocado extrapolou a telona e o discurso. Cirandar foi um verbo não só flexionado, mas também exercitado. Eu cirando, tu cirandas, ele ciranda, nós cirandamos…