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25/06/2016
De quem é o coração que ouvimos bater?
“Caverna dos sonhos esquecidos”, do mestre Werner Herzog, é um diálogo sobre nossas poéticas: a matéria e a sensibilidade de que somos feitos, as imagens que pulsam a nossa mitologia, as traduções do tempo que ligam obras da natureza e do homem, a partir da compreensão do tempo como algo irreversível, impreciso e misterioso.
No Sul da França foi encontrado um dos mais importantes sítios de arte pré-histórica do mundo, a Caverna de Chauvet. Um pequeno grupo formado por arqueólogos, pesquisadores e artistas adentrou a esse lugar para investigação de pinturas rupestres, até então intocáveis. Herzog acompanhou e compôs um olhar e uma conversa surpreendentes com os pesquisadores. Coisa que apenas mestres do documentário sabem fazer e provocar.
“Silêncio! Por favor, vamos ouvir! Se ficarmos em silêncio podemos escutar a batida do coração”, um dos pesquisadores chamou atenção. Herzog complementa, como mestre das narrativas que provocam: “essa batida de coração será deles (eles todos que viveram ou passaram por essa caverna em 30.000 anos), ou de nosso coração?” Qual a precisão dessa batida? A aura incrível desse caverna que guarda mistérios da história da humanidade em seu útero, se encontra facilmente ligada a uma peça de Wagner e a uma pintura romântica alemã. Como essas coisas se conectam como parte uma da outra? Como uma apoia a apreciação e o transbordamento da outra?
As nossas formas de narrar o tempo não dão conta desse lugar. Os arqueólogos criam hipóteses sobre um conjunto de desenhos em uma mesma parede. Eles podem ter sido feitos, cada uma deles, com milhares de anos de diferença. Um abismo no tempo. É como se seu bisavô tivesse feito um desenho há muitos anos atrás e você estivesse finalizado o mesmo nos dias atuais, em um lugar que lhes é comum. A nossa ancestralidade presente simultaneamente em todos os tempos.
Uma das investigações mais impactantes foi de uma pegada de uma criança de 8 anos que está próxima à pegada de um lobo. Os estudiosos detectam as duas espécies, a idade, não há informações precisas, mas algumas suposições: era uma criança que fugia do lobo? Eles caminhavam juntos, eram amigos? Viveram no mesmo período? Fotografias de vidas sobrepostas que pairam por esse lugar.
O que nos é comum, em todos os tempos, é nossa capacidade de adaptação, comunicação e registro; recursos de nossa humanidade que nos apoiam em nossa necessidade de evocação dos mistérios e de transmissão do nosso olhar perante o mundo.
Saiba mais sobre o filme aqui.
Texto: Vanessa Fort