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27/04/2017

Atenção plena ao que nos nutre

No meio da correria cotidiana, são muitas as vozes que escutamos, as tarefas que cumprimos, as regras e os modelos que seguimos para ter certeza de que tudo está em seu lugar. A força do hábito às vezes nos traz a sensação de viver no piloto automático, sem parar para ouvir a nossa voz e descobrir o que nutre os nossos sonhos.

Sem essa pausa introspectiva, sem prestar atenção ao que estamos pensando e fazendo, nosso destino seria apenas seguir o bando, vivendo sem autonomia e sem consciência sobre nossas decisões. Mas podemos ir bem além disso, provoca Regina Migliori, coordenadora do MindEduca, um programa de desenvolvimento pessoal baseado em neurociência e atenção plena (ou mindfulness), uma prática que ela vai abordar em três experiências que serão realizadas na Ciranda de Filmes. “O discernimento é uma característica exclusiva da espécie humana. Ainda assim, muitas pessoas apenas seguem a vontade coletiva e tomam atitudes sem autoria. Precisamos reaprender a fazer escolhas conscientes.”

Para ela, o primeiro passo para retomar a perspectiva em primeira pessoa é se colocar no momento presente. Seguindo o conceito de atenção plena, a primeira experiência que Regina vai propor durante o evento é uma prática guiada de introspecção, uma maneira de estimular a autoconsciência e a conexão com o que nutre, de verdade, o nosso ser.  O que ela chama de introspecção consciente é parar para se contemplar com atenção, sem deixar a mente vagar pelo passado –o que traz uma reflexão– nem correr para o futuro, o que leva à preocupação, à ansiedade.

O exercício, aqui, é descobrir um foco de atenção e sustentá-lo. Quando essa atenção permanece, podemos dirigi-la para dentro de nós, descobrir o que queremos de verdade e agir a partir dessa vontade.

“A consciência sobre o momento presente é muito importante para mergulhar em si e retirar dali a melhor versão de si mesmo”, afirma Regina. Assim, ganhamos controle sobre como agimos. “Nossas ações são precedidas por decisões que podem ser tomadas com raiva ou compaixão. Ter consciência dessas ações é ter clareza sobre onde nascem, de que forma nos expressamos no mundo e que impacto causamos.”

Ela destaca uma atividade simples, mas muito importante, sobre a qual podemos ter mais consciência no dia a dia: comer. A ideia é parar para pensar de que forma decidimos nutrir o nosso corpo: com alimentos saborosos ou só rápidos de consumir? Com prazer ou com ansiedade? Por isso, Regina vai propor uma experiência com estímulos sensoriais ligados aos alimentos, para estimular o desejo e a apreciação de cada comida e descobrir o mindful eating (comer com atenção plena), um método que vem sendo usado por médicos e nutricionistas para tratar compulsões alimentares. Ou na reeducação alimentar de quem costuma comer reagindo apenas a estímulos externos — como a imagem de um chocolate cremoso — e não seguindo seu verdadeiro apetite. “O mindful eating é um comer com consciência do momento, do que está no prato, de com quem estamos, prestando atenção à nossa saciedade”, explica.

Na terceira experiência, Regina quer dirigir o olhar para o que está ao redor, incentivar a consciência sobre as teias de conexão que tecemos com o mundo e sobre como elas estão nutrindo os nossos sonhos e os dos outros. “Aquilo que eu penso, sinto e falo se reflete na completude do mundo. Então é interessante pensar em que tipo de teias estamos estimulando com as nossas escolhas de vida e de consumo”, diz Regina. Para fazer parte do sistema, devemos colocar nessa teia os sonhos descobertos, para que eles virem realidade com a colaboração do outro. “Muita gente abre mão do que sonha por não enxergar de que maneira isso pode acontecer. Do outro lado, tem quem não veja de que modo pode contribuir para tornar reais os sonhos dos outros.”

Texto: Bruna Fontes
Foto: Ciranda de Filmes