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12/11/2021
Naná Lavander e sua revoada que faz sonhar
por Thais H. Caramico, jornalista de cultura e literatura para a infância
O paussarotrópiu que ilustra o cartaz da sétima edição da Ciranda de Filmes é da espécie zootrópio, que gira feito técnica de animação e só funciona se todos estiverem unidos, em movimento e na mesma direção – o que, de certa forma, representa muito bem todas as cirandeiras e todos os cirandeiros. Não à toa, essa obra da artista plástica Naná Lavander é repleta de significados para a nossa mostra.
É que a Naná participou da primeira Ciranda, criando uma instalação em forma de árvore, que ficava no saguão do cinema e era preenchida por objetos afetivos. Por ali, os visitantes entravam e eram convidados, de modo muito acolhedor, a gravar em vídeo, segurando um telefone de lata, suas memórias de infância – como se pode ver no vídeo abaixo.
Já o paussarotrópiu chegou na sexta edição, com a Cirandinha, e neste ano retorna como se os seis pássaros abrigados pela árvore pudessem trazer uma nova mensagem, que reúne a essência deste ano: “Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”, já dizia nosso homenageado, o educador Paulo Freire, a quem celebramos a existência e a luta por uma educação libertadora que promove modos mais belos e justos de viver.
Nessa obra que marca a sétima edição da Ciranda de Filmes, estão reunidos vários tipos de madeira, como a perna de uma mesa antiga, um galho que caiu no telhado da Naná, um pedaço de mesa e até uma antiga prateleira. Tem ainda o cabeçote de um vídeo cassete, que serviu de base para o rolamento. “Foi como diversificar e juntar todo mundo na mesma ciranda”, conta a artista que tem o reaproveitamento de materiais como característica do seu trabalho – e posicionamento político e socioambiental. “Não consigo pensar em comprar algo para criar alguma coisa”, completa Naná, que traz essa consciência de um lugar muito especial: sua infância.
“Desde que me conheço por gente, eu vi meus pais separando o lixo, mesmo quando isso não era assunto. Meu pai também me ensinou a construir meus brinquedos, e minha mãe sempre fazia novas roupas a partir de outras peças. Então reaproveitar o que existe, em um mundo de tanta extração, minério, petróleo e desmatamento é também um ato político”, diz a artista, que gosta de pensar sobre a origem dos objetos e sempre tentar consertar antes de falar em comprar.
“Inclusive, a janela da minha casa muitas vezes amanhece com caixas de leite e suco. É que os moradores de Trancoso sabem que crio esculturas com esses materiais para ressignificar a existência deles, feitos de plástico, alumínio e papel bastante prejudiciais mesmo quando descartados corretamente”, diz a artista plástica que hoje vive na Bahia, mas cresceu em São Paulo onde formou-se numa trajetória inspiradora no universo das crianças e dos jovens, passando pela TV Cultura (Cocoricó e Ilha Rá-Tim-Bum), por companhias de teatro como a Furunfunfum e cuidando da cenografia de diversas produções no cinema, que, segunda ela, é uma arte superimportante para nos tirar um pouco da dimensão real e de tudo que enfrentamos atualmente.
“Neste momento, o que me move e me faz esperançar é compreender que não há tempo para ficar esperando. Nem paciência. De algum jeito muito pequeno, realizo meu trabalho para também contribuir com algo para o planeta. E o que me move é o desejo de recuperar a destruição que está aí. Por isso também tenho pesquisado muito sobre biomimética para entender melhor o que podemos fazer como força coletiva”, conclui Naná Lavander, de mãos dadas e conjugando com a nossa Ciranda o verbo (re)construir.
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