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Primeira infância indígena

A infância nos povos indígenas do Alto Rio Negro, um projeto da Usina da Imaginação

A série documental “Primeira Infância Indígena”, com direção de Rita da Silva e Kurt Shaw, foi realizada com os povos indígenas do Alto Rio Negro, na região amazônica. Os seis filmes curtas-metragens trazem reflexões importantes sobre como os povos originários do Rio Negro pensam e atuam para o desenvolvimento da primeira infância e nos “mostra a capacidade deles de desenvolver plenamente suas crianças, além de valorizar as práticas locais relacionadas à primeira infância”, conta Rita, que é antropóloga.

Um exemplo disso é a licença maternidade X paternidade, pauta na qual o país não avançou, e que já existe na cultura indígena como um resguardo para homens e mulheres: “O pai fica com o bebê e cuida dele e da mãe”, conta Maria Pedrosa, da etnia Tukana, em um dos curtas-metragens da série. 

“Um dia André Baniwa, líder do povo Baniwa, nos disse: ‘pense numa criança de 3 a 4 anos que sabe diferenciar 19 tipos de mandiocas, remar canoa, nadar de um lado de um igarapé ao outro, sabe a diferença entre frutas venenosas e frutas boas e fala pelo menos quatro idiomas. E o Estado vem nos dizer que não somos capazes de desenvolver nossas crianças’. Isso me marcou muito”, relatou o filósofo e co-diretor da série Kurt Shaw. 

A série começou a ser produzida em  2015, quando Rita e Kurt entrevistaram mulheres de aldeias do rio Içana, que tinham como tradição cantar cantigas de ninar para crianças.

Em 2018 e 2019, já com a produção avançada, Rita, Kurt e uma equipe de produção e pesquisa indígena exibiram os filmes ainda não finalizados mais de 50 vezes em mostras em aldeias e espaços urbanos onde vivem famílias indígenas. O objetivo foi dialogar com os povos originários sobre as suas práticas de cuidados locais mais importantes e nesse processo, ampliar a contribuição deles na construção das narrativas. 

“Os filmes cresceram por conta da participação das pessoas que assistiram. Acrescentamos novas ideias, novas entrevistas e novas imagens depois”, conta Kurt.

No Alto Rio Negro vivem 27 etnias, que falam 22 línguas. Na série de documentários, cinco línguas estão presentes nas narrativas: baniwa, tukano, nheengatu, tuyuka e português. Todos os curtas são legendados em português. 

O projeto da série de documentários venceu o edital Saving Brains, do Governo do Canadá, em 2017.

Assista aqui a cada um dos curtas da série:

Episódio 1 – Gravidez e Parto

As mulheres Alto Rio Negro, quando grávidas, trabalham mais para manter o físico forte, sabendo que o parto vai ser um trabalho que exigirá delas força e determinação. Comem comida especialmente saudável, seguem prescrições rituais, e quando vem a hora do parto, usam técnicas passadas de outras gerações. O filme mostra ainda como as mulheres tratam com humor o tema mas também mostra tensão, quando algumas mães falam da violência obstétrica.

Episódio 2 – Preparando o Parto

Eunice Salgado, da etnia Baré de São Gabriel da Cachoeira, com anos de experiência com partos, fala e mostra como prepara o bebê dentro do útero com massagens e movimentos, e também prepara a mãe para dar à luz.

Episódio 3 – Nutrição e Saúde

Em entrevistas com líderes e intelectuais indígenas, pais, mães e avós de crianças pequenas de diferentes etnias do alto Rio Negro, o filme reflete sobre as tradições de como alimentar bebês, crianças pequenas e mães gestantes. Também aborda como lidar com a nova realidade de comida na cidade.

Episódio 4 – Proteção

Para proteger uma criança pequena, têm que pensar em muitas coisas no Alto Rio Negro. Os pais tem que proteger de cobras e onças, da cachoeira, do rio e do carapanã da malária. Também é essencial entender que tem espíritos que perseguem as crianças pequenas, as mães, e outros humanos em momentos de transição e mudança.

Episódio 5 – Estímulos

Para pais e mães do Alto Rio Negro, estimular a criança desde que nasce é tarefa muito importante na educação infantil. Desde os primeiros dias de vida, quando dão banho num igarapé frio para “endurecer o corpo”, as crianças são desafiadas a crescer e se fortalecer.

Episódio 6 – Canto e Linguagem

Como as famílias  nas comunidades indígenas do interior do Amazonas se comunicam com os bebês, desenvolvendo a expressão oral e a compreensão de mundo. Através de seus cantos de embalar e suas histórias tradicionais, transmitem para as novas gerações  a sabedoria ancestral dos povos originários. 

Episódio 7 – Orientação

A escola é a própria casa onde as crianças aprendem no fazer e no convívio comunitário. Pais e mães repassam os seus conhecimentos preparando seus filhos para a vida, ampliando a  percepção de si mesmo e do outro, reproduzindo a autonomia que sempre existiu nos povos indígenas.

Episódio 8 – Saúde Pública Indígena

O que seria uma saúde pública — ou políticas públicas — realmente indígena? Líderes das comunidade do Alto Rio Negro tentam dar uma resposta neste filme desafiador.