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11/06/2016
Roda de conversa: Mestre do Intangível
A segunda Roda de Conversa da Ciranda de Filmes reuniu nessa tarde, no Cinesesc, a coreógrafa e bailarina Georgia Lengos, a educadora musical Teca Alencar Brito e o fotógrafo e pedagogo Claudio Feijó. A mediação ficou por conta da jornalista especializada em infância Gabriela Romeu.
Todos eles abriram suas falas contando sobre suas infâncias, memórias e a relação que tiveram, desde cedo, com o corpo, movimento e som. Georgia, que tem a figura de seu pai dançando em cima da mesa como uma forte lembrança, fala e enaltece a importância da nossa relação com o próprio corpo. Para a coreógrafa, o movimento é algo intrínseco ao animal e ao ser humano: “desde a concepção, tudo é movimento”. Não por acaso, seu caminho foi a dança que, ainda segundo sua leitura, reúne corpo, movimento, espaço e o tempo. Os mesmos elementos que, somados, constituem a essência da brincadeira.
E a brincadeira tem ainda a imprevisibilidade, a surpresa, um caminho inicialmente traçado e pouco depois, desviado. Aspecto comum também às manifestações culturais – sejam elas quais forem. A cultura como mestre foi norte dessa conversa. Ela que se relaciona de forma integral com o sensível, apresenta novos horizontes e realidades, questiona certezas e alimenta a alma. Na conversa falou-se de música, dança, olhar, da escola como um ambiente muitas vezes não estimulante ao que foge do padrão já consagrado de conhecimento.
Teca acredita que “a criança mergulha no sonoro, ela inventa, se reinventa” e, a partir dos quatro anos, sua habilidade e capacidade nata de criação passam a ser menos estimuladas e valorizadas. Não coincidentemente, estamos aqui no período do início da escolarização. A educadora musical apresenta, então, uma gravação feita por alguns de seus alunos que tiveram liberdade na narrativa, instrumentos e tempos utilizados. Possibilidades que enriquecem o jogo da cultura, a brincadeira, aumentam o repertório, lidam com o diferente, respeitam as novidades.
Em sua fala de abertura, Teca contou que começou as aulas de piano aos 5 anos; que seu avô tocava violão e os dois juntos “eram um todo”. Também desde cedo ficou intrigada com a obrigatoriedade de ir às aulas, de seguir o método formal. Sabiamente, sempre ouviu também o entorno, o informal. E defende: “a gente tem que transformar essa ideia de quem é o professor, o educador”.
Claudio Feijó, fotógrafo e que vem ministrando oficinas de “descondicionamento do olhar” ao redor do país, diz que um mestre muito importante – e desconsiderado – é a ignorância. E conta que seus pais “não esperavam nada” dele e, por isso, pôde ir “para todos os lados”. Sua fala tem início de uma maneira inusitada: diferentemente das outras convidadas da roda, Feijó contou seu relato sentado numa cadeira da platéia, entre o público. Para ele, os hábitos e a repetição provocam expectativas limitantes. O nosso olhar sobre nós mesmos, o que os outros têm sobre nós e o que temos do mundo se somam e criam um universo de diferentes interpretações e camadas.
Texto: Regina Cintra