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25/08/2015

A busca de Lila

“Ciências Naturais” é precioso filme do diretor argentino Matías Lucchesi. O filme trata a crise existencial de uma pré-adolescente que não tem qualquer informação sobre seu pai, exceto alguns detalhes que são suficientes para que Lila se aventure na busca deste que nunca chegou a conhecer.

Lila tem doze anos. Sua determinação e personalidade – apresentadas em várias tonalidades na tela – mostram uma pequena crescendo, se conhecendo e amadurecendo diante de sua situação, e diante dos nossos olhos. Nos tornamos testemunhas de seu crescimento. Ela toma decisões e segue o caminho que vai alimentando sua curiosidade e seu movimento.

Com grande interpretação da pequena atriz Paula Hertzog, esse personagem representa uma etapa da vida inquietante que implica na manifestação de muitas incertezas, conclusões e segredos. Nesse caso, a menina é certeira e direta para expressar seus desejos, exigir seus direitos, questionar certas atitudes dos adultos e exigir respostas às suas perguntas que vão desde a investigação sobre um nome, uma cidade até uma data. Nesses casos, a discrição não é uma característica de seu comportamento. Lila é autêntica e fiel às suas convicções.

Ela estuda, tem companheiros de escola em meio a um lugar hostil, frio, silencioso. Sem dúvida entendemos suas razões por causa disso, ao mesmo tempo que não é suficiente para saber quem é ela.  Nos tornamos cúmplices de sua jornada para entender suas origens e o seu mundo interior. Lila não luta contra o que sente; sua angústia é evidente frente a falta de respostas de sua mãe e o desinteresse sobre o que acontece na escola. Cada palavra e cada ação são manifestações de seus anseios para conseguir seu objetivo.

Logo nos primeiros vinte minutos do filme fica evidente que a menina não vai parar até conseguir o que quer. Quando ela consegue um aliado, sua atitude muda, volta a ser mais doce e infantil. É sua professora quem encara a situação e a ajuda sem tentar convencê-la de que está equivocada, ou de que sua intenção de conhecer seu pai é um erro. Ela a acompanha e, de algum modo, a deixa ser. Por isso não intervém nas conversas que Lila consegue ter com as pessoas durante sua aventura e vontade de ver e conhecer seu progenitor. Deixa que a menina conduza cada situação a seu modo. A menina de doze anos não tem nada. Ou melhor, não tem nada a perder ao tentar contatar seu pai.

Esteticamente a película estabelece um diálogo com o espectador do começo ao fim. A escolha de planos, dos diálogos, da luz, do design de som, dos cenários, das interpretações compõem um relato hamornioso com economia de recursos e com uma delicadeza extrema. O diretor escolheu compor uma narrativa de poucos personagens e pouco diálogo. Sem dúvida, cada um deles e cada frase dita são importantes para a leitura do filme.

Ainda mais importante é a apresentação de um conflito que acontece de maneira recorrente em nossa sociedade, e a potente construção dessa personagem que está crescendo e faz o que faz pela força do seu desejo e não para cumprir com uma exigência social.